terça-feira, 27 de maio de 2008

"Mulheres são burras", diz diretor do departamento penitenciário

"Mulheres são burras", diz diretor do departamento penitenciárioda Folha de S.Paulo, em Brasília
Diretor do Depen (Departamento Penitenciário Nacional), órgão vinculado ao Ministério da Justiça, Maurício Kuehne culpa as próprias mulheres pelo fato de 62% das presas do país não receberem nenhum tipo de visita social. "Vou usar uma explicação simplista e que me perdoemas mulheres: é que as mulheres são burras", disse Kuehne, ao ser questionado pela Folha se há uma explicação para esse percentual. "Elas [mulheres] vão visitar os homens [presos], mas, quando elas são encarceradas, os homens não vão visitá-las. É uma questão de cultura machista", completou.
Segundo o diretor do Depen, o baixo índice de visitação nos estabelecimentos para mulheres influencia diretamente no dia-a-dia do estabelecimento. "Influencia, porque a pessoa que não tem essa relaçãofamiliar, sua agressividade vai cada vez mais se acentuando. E a dele também, o homem agressivo nos estabelecimentos penais é justamente por conta disso, de não ter o apoio familiar."Segundo ele, 80% dos homens presos recebem visitas sociais. "Os quenão recebem é porque a penitenciária é distante, e a família não temrecursos [para o deslocamento]."No ano passado, o governo federal repassou R$ 210 milhões aos Estados,para ações específicas para o sistema penitenciário. Para 2008, estãoprevistos R$ 520 milhões. "[Esse valor] é um reconhecimento explícito, por parte do governo federal, de que precisa dar mais auxílio aos Estados.
Só que esse auxílio ainda é pouco. Ele não vai resolver oproblema carcerário dos Estados."Para a juíza Dora Martins, presidente do conselho-executivo da AJD(Associação Juízes para a Democracia), algumas burocracias também têmdificultado as visitas sociais às mulheres, como a exigência, emalguns estabelecimentos, de que as crianças estejam acompanhadas poraquele que tem a sua guarda. Um simples familiar, por exemplo, àsvezes não é suficiente. "Num domingo, na porta de uma penitenciária masculina e de uma feminina, você já percebe essa diferença. É um corte de gênero. Mas dentro da administração [penitenciária] há uma série de impedimentos. Elas [presas] se queixam de não receber a visita das crianças [filhos]", afirma a juíza Martins.

quarta-feira, 21 de maio de 2008

QUERIDA MARINA por: Frei Betto

QUERIDA MARINA
Frei Betto


Caíste de pé! Traze no sangue a efervescente biodiversidade da floresta amazônica. Teu coração desenha-se no formato do Acre e em teus ouvidos ressoa o grito de alerta de Chico Mendes. Corre em tuas veias o curso caudaloso dos rios ora ameaçados por aqueles que ignoram o teu valor e o significado de sustentabilidade.
Na Esplanada dos Ministérios, como ministra do Meio Ambiente, tu eras a Amazônia cabocla, indígena, mulher. Muitas vezes, ao ouvir tua voz clamar no deserto, me perguntei até quando agüentarias. Não te merece um governo que se cerca de latifundiários e cúmplices do massacre de ianomâmis. Não te merecem aqueles que miram impassíveis os densos rolos de fumaça volatilizando a nossa floresta para abrir espaço à monocultura do gado, da soja, da cana, ao corte irresponsável de madeiras nobres.
Por que foste excluída do Plano Amazônia Sustentável? A quem beneficiará este plano, aos ribeirinhos, aos povos indígenas, aos caiçaras, aos seringueiros ou às mineradoras, hidrelétricas, madeireiras e empresas do agronegócio? Quantas derrotas amargaste no governo? Lutaste ingloriamente para impedir a importação de pneus usados e transformar o nosso país em lixeira das nações metropolitanas; para evitar a aprovação dos transgênicos; para que se cumprisse a promessa histórica de reforma agrária.
Não te muniram de recursos necessários à execução do Plano de Ação para a Prevenção e Controle do Desmatamento da Amazônia Legal, aprovado pelo governo em 2004. Entre 1990 e 2006, a área de cultivo de soja na Amazônia se expandiu ao ritmo médio de 18% ao ano. O rebanho se multiplicou 11% ao ano. Os satélites do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) detectaram, entre agosto e dezembro de 2007, a derrubada de 3.235 km2 de floresta.
É importante salientar que os satélites não contabilizam queimadas, apenas o corte raso de árvores. Portanto, nem dá para pôr a culpa na prolongada estiagem do segundo semestre de 2007. Como os satélites só captam cerca de 40% da área devastada, o próprio governo estima que 7.000 km2 tenham sido desmatados. Mato Grosso é responsável por 53,7% do estrago; o Pará, por 17,8%; e Rondônia, por 16%. Do total de emissões de carbono do Brasil, 70% resultam de queimadas na Amazônia.


Quem será punido? Tudo indica que ninguém. A bancada ruralista no Congresso conta com cerca de 200 parlamentares, um terço dos membros da Câmara dos Deputados e do Senado. E, em ano de eleições municipais, não há nenhum indício de que os governos federal e estaduais pretendam infligir qualquer punição aos donos das motosserras com poder de abater árvores e eleger ($) candidatos.
Tu eras, Marina, um estorvo àqueles que comemoram, jubilosos, a tua demissão - os agressores ao meio ambiente, os mesmos que repudiam a proposta de se proibir no Brasil o fabrico de placas de amianto e consideram que "índio atrapalha o progresso". Defendeste com ousadia nossas florestas, biomas e ecossistemas, incomodando a quem não raciocina senão em cifrões e lucros, de costas aos direitos das futuras gerações.
Teus passos, Marina, foram sempre guiados pela ponderação e fé. Em teu coração jamais encontrou abrigo a sede de poder, o apego a cargos, a bajulação aos poderosos, e tua bolsa não conhece o dinheiro escuso da corrupção.
Retorna à tua cadeira no Senado. Lembra-te ali de teu colega Cícero, de quem estás separada por séculos, porém unida pela coerência ética, a justa indignação e o amor ao bem comum. Cícero se esforçou para que Catilina admitisse seus graves erros: "É tempo, acredita-me, de mudares essas disposições; desiste das chacinas e dos incêndios. Estás apanhado por todos os lados. Todos os teus planos são para nós mais claros que a luz do dia. Em que país do mundo estamos nós, afinal? Que governo é o nosso?"
Faz ressoar ali tudo que calaste como ministra. Não temas, Marina. As gerações futuras haverão de te agradecer e reconhecer o teu inestimável mérito.

CARTA ABERTA de reivindicações dos prisioneiros da Colônia Penal de Simões Filho

CARTA ABERTA A POPULAÇÃO BAIANA

Nós, familiares e amigos de prisioneiros e prisioneiras do Estado da Bahia – ASFAP, reunidos extraordinariamente na cidade de Simões Filho precisamente às portas da Colônia Penal de Simões Filho vimos por meio deste comunicado chamar a atenção de toda sociedade para a política carcerária em curso no Estado da Bahia e exigir providências para que nossos familiares confinados não sejam mais uma vez julgados arbitrariamente e condenados a um regime desumano, vexatório e degradante.
06 meses depois de deflagrarem uma greve de fome por melhores condições na execução de suas penas e de tratamento os internos da Colônia penal de Simões Filho voltaram ao Estado de Greve de Fome – Manifestação Pacífica e Ordeira moralmente admitida em um regime democrático de Direito e juridicamente aceitável.
Não há nada de novo na manifestação agora em curso posto que as situações de descaso, abandono e violência continuam instaladas. Sabemos que, pode haver perseguição e retaliação a esses homens da Colônia Penal como ocorreu na manifestação passada com tropas de choque, espancamentos e transferências ilegais, mas nada importa, importa sim lutar por justiça e nós, apoiamos nossos familiares, pois suas alegações são justas e necessárias.
Apelamos para as organizações de Direitos Humanos, organizações de Movimento Negro, organizações de mulheres, instituições de defesa da pessoa humana e da cidadania e as pessoas de um modo geral que reflitam sobre o conteúdo racista e excludente de se manter na invisibilidade seres humanos tratados com espécie de 2ª categoria sem direito ao menos a livre manifestação.
Se o Governo espera cabeças penduradas na muralha, reféns tomados com facas e violência se engana aqui apresentamos seres humanos com sonhos, esperança, esposas, filhos e um propósito coletivo de mudar o circulo histórico que nos relegou aos porões e aos tumbeiros.
Por tudo isso, apresentamos as reivindicações dos prisioneiros da Colônia Penal de Simões Filho e esperamos a solidariedade das organizações e a sensibilidade do governo para atendê-las imediatamente.
AGILIDADE NOS PROCESSOS
UM RALO NO INTERIOR DAS CELAS PARA ESCOAMENTO DA ÁGUA
MELHOR ASSISTÊNCIA MÉDICA, ODONTOLÓGICA E JURÍDICA.
LIBERAÇÃO DE ALIMENTOS CRUS PARA QUE OS PRÓPRIOS INTERNOS POSSAM COZINHAR SUA ALIMENTAÇÃO
LIBERAÇÃO DE MAIS FOGÕES
CONSTRUÇÃO DE UM ABRIGO EXTERNO PARA OS VISITANTES
IGUALDADE DE TRATAMENTO COMO MANDA A LEI DE EXECUÇÃO PENAL 7210 DE 11 DE JULHO DE 1984
TRABALHO ELABORATIVO
TRABALHO DE RESSOCIALIZAÇÃOPEDEM A PRESENÇA DO MINISTÉRIO PÚBLICO, DA DEFENSORIA PÚBLICA, DA PRESIDENTE DA COMISSÃO DE DIREITOS HUMANOS DA CÂMARA DE VEREADORES DE SALVADOR, VEREADORA VÂNIA GALVÃO, DA COMISSÃO DE DIREITOS HUMANOS DA ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA, DO JUIZ COORDENADOR DA VARA DE EXECUÇÕES PENAIS DR. MOACYR PITA LIMA E DA IMPRENSA

terça-feira, 20 de maio de 2008

EM DEFESA DA VIDA E DA LIBERDADE - Audiência Pública

EM DEFESA DA VIDA E DA LIBERDADEAudiência Pública



Discutir e elaborar estratégias e ações de enfretamento ao genocídio decorrente do racismo e diversas formas de opressão que afeta diretamente a Juventude Negra Baiana, levando em consideração questões de Gênero, Raça E Orientação Sexual, haja vista uma desvantagem histórica desse segmento que ainda nos dias atuais a Juventude Negra vem sofrendo com o extermínio físico e simbólico protagonizado pelo estado e que contam com a competência de grande parte da sociedade, defendendo que as políticas públicas devem se construir em instrumentos de mudança dessa realidade, esse é um dos objetivos da Audiência pública “Em Defesa da Vida e da Liberdade” que acontecerá no dia 27 de maio de 2008 das 08 as 12h00min na capital baiana. O evento será realizado no plenário da Assembléia Legislativa da Bahia no Centro Administrativo da Bahia -CAB.

O encontro é uma proposição do Fórum Baiano de Juventude Negra, o fórum nasce como deliberação do I Encontro Nacional de Juventude Negra – ENJUNE consiste num espaço de construção de Políticas Públicas para Juventude Negra dialogando com grupos, movimentos, organizações e articulações de Juventude Negra. A audiência conta com a parceria da comissão de reparação da câmara dos Deputados presidida pela Deputada Fátima Nunes.


Estarão presentes na audiência juventudes de escolas públicas, organizações do Movimento Negro com setores de Juventude Negra, Movimentos Sociais, organizações governamentais e não governamentais, poder público, e jovens negras e negros não ligados a nenhuma organização.

Representantes do Poder público: SEMUR, SESAB, SETRI, SEPROMI, SJCDH, SEDES, SSP, MP, COMISSÃO DE DIREITOS HUMANOS-ALBA E FRENTE PARLAMENTAR DE JUVENTUDE – ALBA.

Sociedade Civil: CAMPANHA REAJA, MNU, ANA FLAUSINA LANÇANDO SEU LIVRO SOBRE A SITUAÇÃO DOS PRESIDIOS NO BRASIL, CDCN, ASSOCIAÇÃO DOS FAMILIARES E AMIGAS (OS) DE PRESAS (OS) - ASFAP.

Passando por temas como violência policial e grupos de extermínio sistema prisional e carcerário, drogas, aborto e discutindo modelo de segurança pública no estado da Bahia.


Maiores informações:

Geovan Adorno – 8721-9265 / 3117-1492
Elder Costa 8732 - 3469 / 3393-2313
Karla Akotirene – 8108-6339 / 8854-3034
Fabiana Franco - 88324755

VI Caminhada Lésbica e de Bissexuais de São Paulo.

VI Caminhada Lésbica e de Bissexuais de São Paulo.


22/05 - Feira Cultural da Diversidade - Tenda das Lésbicas - LBL - 10 às 22h
23/05 - Encontro Político de Lésbicas e Bissexuais - 9h30 às 12h30 e Reunião Nacional da Liga Brasileira de Lésbicas - 14h às 17h participação de ativistas Lésbicas e Bissexuais de SP e de diversos estados e regiões.
Informações no site da LBL: www.lbl.org.br
24/05 - VI Caminhada de Lésbicas e Bissexuais de SP - Praça Osvaldo Cruz (início da Paulista) até o Boulevar 9 de Julho (atrás do Masp)
14h00 - Engajamento de militantes batuqueiras na Fuzarca Feminista - Praça Osvaldo Cruz (pra ir se conhecendo e afinando nossas latas, tambores e tudo mais que a gente quiser!)
14h30 - Concentração, apresentações culturais e ato político
16h30 - Início da caminhada
18h00 - Encerramento com show e apresentações culturais - Boulevard 9 de Julho (atrás do Masp)
22h00 - Festa das Mulheres - Informações no site da LBL: www.lbl.org.br

25/05 - Lésbicas na Parada LGBT - Trio da Visibilidade Lésbica

Ativismo : VI Caminhada de Lésbicas e Bissexuais de SP - 24 de maio de 2008 Enviado por Murilo Moura Sarno em 5/5/2008 17:20:49 (2893 leituras)
Nós mulheres lésbicas e bissexuais convidamos todas as pessoas para celebrar, na VI Caminhada, a Diversidade e o direito de amar livremente, no sábado, dia 24 de maio. Ser lésbica é um direito! Nem igreja, nem mercado, nosso corpo nos pertence. Por um Estado laico de fato!Ser Lésbica é um direito!Defender este direito é defender uma sociedade plural, livre de preconceitos, que respeite as pessoas como elas são. Cada pessoa é única e sua felicidade passa pelo livre exercício da sexualidade e pela autonomia sobre o próprio corpo: DIREITOS DE TODAS AS PESSOAS. Queremos políticas públicas inclusivas para mulheres lésbicas e bissexuais .Não à violência. Não à lesbofobia. Não à mercantilização do corpo das mulheres!Nós mulheres somos vítimas, diariamente, de algum tipo de discriminação, preconceito e violência, potencializados quando somos lésbicas, negras ou pobres. O Mercado utiliza como estratégias a naturalização da violência, o rebaixamento da auto-estima das mulheres, a perpetuação do preconceito e a discriminação.Utiliza o corpo da mulher para vender todo tipo de mercadoria, estimular sua submissão ao poder masculino, ao consumismo e a valores retrógrados.Não aos fundamentalismos. Defesa do Estado Laico!Somos alvo constante do fundamentalismo, propagado cada vez mais pela Igreja e pelo Estado, com o objetivo de controlar o corpo e a sexualidade das mulheres. O fundamentalismo cultiva o pensamento único e a intolerância, de modo a perseguir e excluir quem não partilha de suas crenças, a maioria delas baseadas apenas em dogmas. Ora, o Estado brasileiro é laico desde 1891, a liberdade de opinião e a inviolabilidade de consciência estão asseguradas na Constituição. Isso significa a separação entre a religiosidade das pessoas e o Estado, entre as crenças e as políticas públicas.Pela autonomia, igualdade e cidadania!A sociedade que queremos deve garantir a igualdade de gêneros e respeitar a diversidade sexual. Queremos condições dignas na saúde pública que garantam o direito das mulheres de decidirem ter ou não ter filhos, sejam elas lésbicas, heterossexuais ou bissexuais. Queremos que a Lei assegure a autonomia e liberdade de escolha para o exercício da cidadania plena, a união civil de pessoas do mesmo sexo, o direito à inseminação artificial para as lésbicas pelo Sistema Único de Saúde, a legalização do aborto e a criminalização da lesbo-homofobia em todas as suas formas de expressão.A Liga Brasileira de Lésbicas realiza esta VI Caminhada pelo direito de ser lésbica, e se junta a todas as mulheres pelo fim do machismo, do racismo, do sexismo, da misoginia e da lesbofobia. Pela liberdade e por um Estado realmente laico e independente, que não aceite pressões do mercado e nem da igreja, mas que trabalhe para a construção de uma sociedade livre, justa e igualitária.E tudo começou2003 foi um ano muito importante para a organização das lésbicas. Ao mesmo tempo em que acontecia em São Paulo o V SENALE (Seminário Nacional de Lésbicas), considerado um marco para o fortalecimento da organização política de lésbicas e bissexuais, foi realizada, também nesse período, a I Caminhada de Lésbicas do país.Organizada pelo Grupo Umas & Outras, e inspirada na experiência que já acontecia no México, uma manifestação de rua composta por lésbicas.Desde então, todos os anos, no sábado que antecede a Parada do Orgulho GLBTT, as mulheres fazem sua caminhada para romper com a invisibilidade a que lésbicas e bissexuais estão sujeitas dentro do movimento glbtt, nos espaços de poder e na sociedade.Liga Brasileira de LésbicasA Liga Brasileira de Lésbicas/LBL é uma articulação política de mulheres lésbicas e bissexuais pela garantia efetiva da livre orientação e expressão afetivosexual. Tem como princípios o pluralismo, a autonomia, autodeterminação e liberdade, a democracia, a solidariedade; a transparência; a horizontalidade; a liberdade de orientação e expressão afetivo-sexual; a defesa do Estado laico; a defesa dos princípios feministas e suas bandeiras; a visibilidade lésbica; uma posição antiracista e anti-capitalista; e combate a lesbo-homofobia.Como expressão do movimento social, a LBL se constitui como espaço autônomo e não institucional de articulação política. Criada em janeiro de 2003 durante o Fórum Social Mundial, a LBL tem atuado para alcançar a sociedade desejada por todas. Uma sociedade livre de discriminações, onde nenhuma forma de amor seja passível de preconceito ou discriminação.Em São Paulo, a LBL luta hoje para garantir efetividade nas políticas públicas, reconhecendo as especificidades lésbicas e bissexuais e sua cidadania plena.Junte-se a nós. Participe da VI Caminhada de Lésbicas e Bissexuais de São Paulo!www.lbl.org.brlblsp@uol.com.brligabrasileiradelesbicas@uol.com.br



Memória dos Movimento Sociais na Bahia - Movimentodos Trabalhadores


segunda-feira, 19 de maio de 2008

Vivendo de Amor

Vivendo de Amor
Bell Hooks
O amor cura. Nossa recuperação está no ato e na arte de amar. Meu trecho favorito do Evangelho segundo São João é o que diz: "Aquele que não ama ainda está morto".
Muitas mulheres negras sentem que em suas vidas existe pouco ou nenhum amor. Essa é uma de nossas verdades privadas que raramente é discutida em público. Essa realidade é tão dolorosa que as mulheres negras raramente falam abertamente sobre isso.
Não tem sido simples para as pessoas negras desse país entenderem o que é amar. M. Scott Peck define o amor como "a vontade de se expandir para possibilitar o nosso próprio crescimento ou o crescimento de outra pessoa", sugerindo que o amor é ao mesmo tempo "uma intenção e uma ação". Expressamos amor através da união do sentimento e da ação. Se considerarmos a experiência do povo negro a partir dessa definição, é possível entender porque historicamente muitos se sentiram frustrados como amantes.
O sistema escravocrata e as divisões raciais criaram condições muito difíceis para que os negros nutrissem seu crescimento espiritual. Falo de condições difíceis, não impossíveis. Mas precisamos reconhecer que a opressão e a exploração distorcem e impedem nossa capacidade de amar.
Numa sociedade onde prevalece a supremacia dos brancos, a vida dos negros é permeada por questões políticas que explicam a interiorização do racismo e de um sentimento de inferioridade. Esses sistemas de dominação são mais eficazes quando alteram nossa habilidade de querer e amar. Nós negros temos sido profundamente feridos, como a gente diz, "feridos até o coração", e essa ferida emocional que carregamos afeta nossa capacidade de sentir e consequentemente, de amar. Somos um povo ferido. Feridos naquele lugar que poderia conhecer o amor, que estaria amando. A vontade de amar tem representado um ato de resistência para os Afro-Americanos. Mas ao fazer essa escolha, muitos de nós descobrimos nossa incapacidade de dar e receber amor.
*O Impacto da Escravidão no Ato de Amar*
Nossas dificuldades coletivas com a arte e o ato de amar começaram a partir do contexto escravocrata. Isso não deveria nos surpreender, já que nossos ancestrais testemunharam seus filhos sendo vendidos; seus amantes, companheiros, amigos apanhando sem razão. Pessoas que viveram em extrema pobreza e foram obrigadas a se separar de suas famílias e comunidades, não poderiam ter saído desse contexto entendendo essa coisa que a gente chama de amor. Elas sabiam, por experiência própria, que na condição de escravas seria difícil experimentar ou manter uma relação de amor.
Imagino que, após o término da escravidão, muitos negros estivessem ansiosos para experimentar relações de intimidade, compromisso e paixão, fora dos limites antes estabelecidos. Mas é também possível que muitos estivessem despreparados para praticar a arte de amar. Essa talvez seja a razão pela qual muitos negros estabeleceram relações familiares espelhadas na brutalidade que conheceram na época da escravidão. Seguindo o mesmo modelo hierárquico, criaram espaços domésticos onde conflitos de poder levavam os homens a espancarem as mulheres e os adultos a baterem nas crianças como que para provar seu controle e dominação. Estavam assim se utilizando dos mesmos métodos brutais que os senhores de engenho usaram contra eles. Sabemos que sua vida não era fácil; que com a abolição da escravatura os negros não ficaram imediatamente livres para amar.
Depoimentos de escravos revelam que sua sobrevivência estava muitas vezes determinada por sua capacidade de reprimir as emoções. Num documento datado em 1845, Frederick Douglass lembra que foi incapaz de se sensibilizar com a morte de sua mãe, por ter sido impedido de manter contato com ela. A escravidão condicionou os negros a conter e reprimir muitos de seus sentimentos. O fato de terem testemunhado o abuso diário de seus companheiros- o trabalho pesado, as punições cruéis, a fome- fez com que se mostrassem solidários entre eles somente em situações de extrema necessidade. E tinham boas razões para imaginar que, caso contrário, seriam punidos. Somente em espaços de resistência cultivados com muito cuidado, podiam expressar emoções reprimidas. Então, aprenderam a seguir seus impulsos somente em situações de grande necessidade e esperar por um momento "seguro" quando seria possível expressar seus sentimentos.
Num contexto onde os negros nunca podiam prever quanto tempo estariam juntos, que forma o amor tomaria? Praticar o amor nesse contexto poderia tornar uma pessoa vulnerável a um sofrimento insuportável. De forma geral, era mais fácil para os escravos se envolverem emocionalmente, sabendo que essas relações seriam transitórias. A escravidão criou no povo negro uma noção de intimidade ligada ao sentido prático de sua realidade. Um escravo que não fosse capaz de reprimir ou conter suas emoções, talvez não conseguisse sobreviver.
*Emoções Reprimidas: A Chave da Sobrevivência*
A prática de se reprimir os sentimentos como estratégia de sobrevivência continuou a ser um aspecto da vida dos negros, mesmo depois da escravidão. Como o racismo e a supremacia dos brancos não foram eliminados com a abolição da escravatura, os negros tiveram que manter certas barreiras emocionais. E, de uma maneira geral, muitos negros passaram a acreditar que a capacidade de se conter emoções era uma característica positiva. No decorrer dos anos, a habilidade de esconder e mascarar os sentimentos passou a ser considerada como sinal de uma personalidade forte. Mostrar os sentimentos era uma bobagem.
Tradicionalmente, as famílias do Sul do país ensinavam as crianças ainda pequenas que era importante reprimir as emoções. Normalmente as crianças aprendiam a não chorar quando eram espancadas. Expressar os sentimentos poderia significar uma punição ainda maior. Os pais avisavam: "Não quero ver nem uma lágrima". E se a criança chorava, ameaçavam: "Se não parar, vou te dar mais uma razão para chorar." Como é possível diferenciar esse comportamento daquele do senhor de engenho que espancava seu escravo sem permitir que ele experimentasse qualquer forma de consolo, ou mesmo que tivesse um espaço para expressar sua dor? E se tantas crianças negras aprenderam desde cedo que expressar as emoções é sinal de fraqueza, como poderiam estar abertas para amar? Muitos negros têm passado essa idéia de geração a geração: se nos deixarmos levar e render pelas emoções, estaremos comprometendo nossa sobrevivência. Eles acreditam que o amor diminui nossa capacidade de desenvolver uma personalidade sólida.
*Em Algum Momento Você** Nos Amou?*
Quando eu era criança, percebia que fora do contexto da religião e do romance, o amor era visto pelos adultos como um luxo. A luta pela sobrevivência era mais importante do que o amor. Somente as pessoas mais velhas - nossas avós e bisavós, nossos avôs e bisavôs, nossos padrinhos e madrinhas -pareciam dedicadas a arte e ao ato de amar. Elas nos aceitavam, cuidavam de nós, nos davam atenção e principalmente, afirmavam nossa necessidade de experimentar prazer e felicidade. Eram carinhosas e o demonstravam fisicamente. Nossos pais e sua geração, que só pensavam em subir na vida, geralmente passavam a impressão de que o amor é uma perda de tempo, um sentimento ou um ato que os impedia de lidar com coisas mais importantes.
Quando eu dava aulas sobre o livro Sula, de Toni Morrison, reparava que minhas alunas se identificavam com um trecho no qual Hannah, uma mulher negra já adulta, pergunta a sua mãe, Eva: "Em algum momento você nos amou?" E Eva responde bruscamente: "Como é que você tem coragem de me fazer essa pergunta? Você não tá aí cheia de saúde? Como não consegue enxergar?" Hannah não se satisfaz com a resposta, pois sabe que a mãe sempre procurou suprir suas necessidades materiais. Ela está interessada num outro nível de cuidado, de carinho e atenção. E diz para Eva: "Alguma vez você brincou com a gente?" Mais uma vez, Eva responde como se a pergunta fosse totalmente ridícula: Brincar? Ninguém brincava em 1895. Só porque agora as coisas são fáceis, você acha que sempre foram assim? Em 1895 não era nada fácil. Era muito duro. Os negros morriam como moscas... Cê acha que eu ia ficar brincando com crianças? O que é que iam pensar de mim?
A resposta de Eva mostra que a luta pela sobrevivência não significava somente a forma mais importante de carinho, mas estava acima de tudo. Muitos negros ainda pensam assim. Suprir as necessidades materiais é sinônimo de amar. Mas é claro que mesmo quando se possui privilégios materiais, o amor pode estar ausente.
E num contexto de pobreza, quando a luta pela sobrevivência se faz necessária, é possível encontrar espaços para amar e brincar, para se expressar criatividade, para se receber carinho e atenção. Aquele tipo de carinho que alimenta corações, mentes e também estômagos. No nosso processo de resistência coletiva é tão importante atender as necessidades emocionais quanto materiais.
Não é por acaso que o diálogo sobre o amor no livro Sula se dá entre duas mulheres negras, entre mãe e filha. Sua relação simboliza uma herança que será reproduzida em outras gerações. Na verdade Eva não alimenta o crescimento espiritual de Hannah, e Hannah não alimenta o crescimento espiritual de sua filha, Sula. Mas Eva simboliza um modelo de mulher negra "forte", de acordo com seu estilo de vida, por sua capacidade de reprimir emoções e garantir sua segurança material. Essa é uma forma prática de se definir nossas necessidades, como naquela canção de Tina Turner: "O que é que o amor tem a ver com isso?"
*Se Conhecêssemos o Amor*
O amor precisa estar presente na vida de todas as mulheres negras, em todas as nossas casas. É a falta de amor que tem criado tantas dificuldades em nossas vidas, na garantia da nossa sobrevivência. Quando nos amamos, desejamos viver plenamente. Mas quando as pessoas falam sobre a vida das mulheres negras, raramente se preocupam em garantir mudanças na sociedade que nos permitam viver plenamente.
Geralmente enfatizam nossa capacidade de "sobreviver" apesar das circunstâncias difíceis, ou como poderemos sobreviver no futuro. Quando nos amamos, sabemos que é preciso ir além da sobrevivência. É preciso criar condições para viver plenamente. E para viver plenamente as mulheres negras não podem mais negar sua necessidade de conhecer o amor.
Para conhecermos o amor, primeiro precisamos aprender a responder as nossas necessidades emocionais. Isso pode significar um novo aprendizado, pois fomos condicionadas a achar que essas necessidades não eram importantes. Por exemplo, no seu livro, O Hábito da Sobrevivência: Estratégias de Vida das Mulheres Negras, Kesho Scott relata uma experiência importante que a ensinou a sobreviver: Medindo treze anos, permaneci parada em frente a porta da sala. Minhas roupas estavam molhadas. Meus cabelos pingando. Estava chorando, chocada, precisando do colo da minha mãe. Ela me olhou de cima a baixo, devagar, levantou-se do sofá e caminhou ao meu encontro com o corpo carregado de críticas. Parada, com as mãos na cintura, sua sombra caindo sobre meu rosto, perguntou sem conseguir esconder a raiva: "O que aconteceu?" Hesitei como se surpresa por sua raiva e respondi: "Elas colocaram minha cabeça na privada. Disseram que não posso nadar com elas". "Elas" eram oito meninas brancas da escola. Tentei abraçá-la, mas ela se afastou bruscamente dizendo: "Que inferno! Pegue seu casaco e vamos embora".
Naquele momento Keshno estava aprendendo que suas necessidades emocionais não eram importantes. Logo depois ela escreve: "Minha mãe me ensinou uma valiosa lição naquele dia. Aprendi que deveria lutar contra a discriminação racial e sexual". É claro que essa é uma lição importante para as mulheres negras. Mas Keshno estava também aprendendo uma lição dolorosa, ao sentir que não merecia ser consolada após uma experiência traumática, como se não devesse nem mesmo esperar por isso, como se suas necessidades individuais não fossem tão importantes quanto a luta de resistência coletiva contra o racismo e o sexismo. Imaginem como essa história seria diferente se, ao entrar na sala tão abalada, Keshno tivesse recebido o consolo de sua mãe, e se primeiro sua mãe a ajudasse a se pentear e arrumar, para depois então explicar a necessidade de confrontar (talvez não naquele momento, se Keshno não estivesse preparada emocionalmente para o confronto) as alunas brancas que a atacaram. Dessa forma Keshno teria aprendido, aos treze anos, que sua saúde emocional era tão importante quanto o movimento contra o racismo e o sexismo - que na verdade essas duas experiências estavam interligadas.
Muitas de nós, mulheres negras, aprendemos a negar nossas necessidades mais íntimas, enquanto Desenvolvíamos nossa capacidade de confrontar a vida pública. É por isso que constantemente parecemos ter sucesso no trabalho, mas não na vida privada. Vocês entendem o que estou querendo dizer. Quando vemos uma mulher negra aparentemente segura de si, de seu trabalho, é bem provável que se formos visitá-la sem avisar, com exceção da sala, todo o resto da casa vai estar a maior bagunça, como se tivesse passado um furacão. Creio que esse caos representa uma reflexão de seu interior, da falta de cuidado consigo própria. A partir do momento que acreditarmos, de preferência desde crianças, que nossa saúde emocional é importante, poderemos suprir nossas outras necessidades.
Muitas vezes confundimos o reconhecimento de nossas emoções com o desejo de se manter em controle. Quando ignoramos nossas reais necessidades, a tendência é nos fragilizarmos, nos tornarmos vulneráveis e emocionalmente instáveis. As mulheres negras se esforçam muito para esconder essa situação.
Voltando a falar da mãe de Keshno, é provável que a dor de sua filha tenha trazido recordações de suas próprias feridas, nunca reveladas. Será que assumiu aquela atitude crítica, dura, ou mesmo cruel, para não se expor, chorar, e deixar de ser "uma mulher negra forte"? Mas se tivesse chorado, sua filha saberia que ela se identificava com aquela dor, que seria possível falar sobre o assunto, que não precisaria guardar essa dor.
Essa atitude representa o que muitas de nós presenciamos em circunstâncias semelhantes - ela mantinha o controle. Até mesmo sua postura física significava que mantinha o domínio da situação. Claro que, como mulher negra, essa mãe queria que sua presença fosse mais poderosa do que as meninas brancas. Um modelo de mãe que sabe como apoiar sua filha numa situação de sofrimento é representado no romance Sassafrass, Cypress e Indigo, de Ntozake Shange. Esse livro retrata mulheres negras como personagens fortalecidos pelo amor de sua mãe. Mesmo quando não concorda com certas opções de suas filhas, essa mãe as trata com respeito e oferece consolo. Esse é um trecho de uma carta que ela escreve para Sassafrass, que passa por dificuldades e quer voltar para casa. A carta começa assim: "Claro que você pode voltar pra casa! Aconteça o que acontecer, nunca vou deixar de te amar". Primeiro ela demonstra seu amor, depois aconselha, e volta a expressar seu amor: Você e Cypress me deixam louca com seu estilo de vida alternativo. Vocês precisam parar de nadar contra a corrente. Você sabe o que quero dizer... Lembre-se disso. Volte para casa e vamos resolver essa situação. Você terá muitas opções e ninguém vai te chatear ou te enganar. Nada como um dia depois do outro. Você acorda. Você come, vai trabalhar, volta pra casa, come outra vez, descansa, e vai dormir. Nossa situação melhorou. Continuo me perguntando onde foi que errei. Mas no fundo sinto que não estou errada. Estou certa. O mundo está de cabeça pra baixo e está tentando enlouquecer as minhas filhas. Agora chega. Eu te amo muito. Você está se tornando uma mulher adulta e sei o que isso significa. Volte para casa. Sei que vai descobrir algo mais sobre você. Com amor, Mamãe.
*Amando Aquilo Que Vemos*
A arte e a prática de amar começam com nossa capacidade de nos conhecer e afirmar. É por isso que tantos livros de auto-ajuda dizem que devemos mirar-nos num espelho e conversar com nossas próprias imagens. Tenho percebido que às vezes não amo a imagem ali refletida. Eu a inspeciono. Desde que acordo e me vejo no espelho, começo a me analisar, não com a intenção de me afirmar, mas de me criticar. Isso era comum lá em casa. Quando eu e minhas cinco irmãs descíamos as escadas em direção àquele território ocupado por meu pai, minha mãe e meus irmãos, entrávamos no mundo da "crítica". Tudo era observado e tudo estava errado conosco. Raramente uma de nós era elogiada.
Quando substituo a crítica negativa pelo reconhecimento positivo, sinto-me mais forte para começar o dia. A afirmação é o primeiro passo para cultivarmos nosso amor interior. Uso a expressão "amor interior" e não "amor próprio" porque a palavra "próprio" é geralmente usada para definir nossa posição em relação aos outros. Numa sociedade racista e machista, a mulher negra não aprende a reconhecer que sua vida interior é importante.
A mulher negra descolonizada precisa definir suas experiências de forma que outros entendam a importância de sua vida interior. Se passarmos a explorar nossa vida interior, encontraremos um mundo de emoções e sentimentos. E se nos permitirmos sentir, afirmaremos nosso direito de amar interiormente. A partir do momento em que conheço meus sentimentos, posso também conhecer e definir aquelas necessidades que só serão preenchidas em comunhão ou contato com outras pessoas.
Onde está o amor, quando uma mulher negra se olha e diz: "Vejo uma pessoa feia, escura demais, gorda demais, medrosa demais - que não merece ser amada, porque nem eu gosto do que vejo" Ou talvez: "Vejo uma pessoa tão ferida, que é pura dor, e não quero nem olhar pra ela porque não sei o que fazer com essa dor". Aí o amor está ausente. Para que esteja presente é preciso que essa mulher decida se olhar internamente, sem culpa e sem censura.
E ao definir o que vê, talvez perceba que seu interior merece ou precisa de amor. Nunca ouvi uma mulher negra dizer num grupo de apoio que não precisa de amor. Ela pode até querer esconder essa necessidade, mas não é preciso muito tempo de análise para que reconheça isso. Se perguntarmos diretamente a uma mulher negra se ela precisa de amor, a resposta provavelmente será positiva. Para nos amarmos interiormente, precisamos antes de tudo prestar atenção, reconhecer e aceitar essa necessidade. Se acreditarmos que não seremos punidas por reconhecermos quem somos ou o que sentimos, poderemos entender melhor nossas dificuldades.
Normalmente entrevisto a mim mesma e acho que outras mulheres devem fazer o mesmo. Às vezes é difícil entrar em contato com meus sentimentos, mas ao me fazer uma pergunta, geralmente encontro a resposta.
Algumas vezes a gente se olha e vê tanta confusão, tanta dor, que não sabemos o que fazer. Então precisamos procurar ajuda. Às vezes ligo para meus amigos e digo: "Não consigo entender o que sinto e não sei o que fazer, você pode me ajudar?" Muitas mulheres negras não têm coragem de pedir ajuda, pois isso significaria um sinal de fraqueza. Precisamos nos livrar desse condicionamento. Ter capacidade de pedir ajuda significa que temos poder. Cada vez que buscamos ajuda nosso poder aumenta, ao invés de diminuir. Experimente. Geralmente buscamos ajuda em momentos de crise. Mas podemos evitar a crise se reconhecermos nossa dificuldade em lidar com uma determinada situação. Para as mulheres negras acostumadas a manter o controle das situações, pedir ajuda pode significar a prática do amor, da confiança, reconhecendo que não precisamos resolver tudo sozinhas. A prática de se amar interiormente nos revela o que o nosso espírito necessita, além de nos ajudar a entender melhor as necessidades das outras pessoas.
As mulheres negras que escolhem ( e aqui enfatizo a palavra "escolhem") praticar a arte e o ato de amar, devem dedicar tempo e energia expressando seu amor para outras pessoas negras, conhecidas ou não. Numa sociedade racista, capitalista e patriarcal, os negros não recebem muito amor. E é importante para nós que estamos passando por um processo de descolonização, perceber como outras pessoas negras respondem ao sentir nosso carinho e amor. Outro dia minha amiga T. me contou que faz questão de visitar e conversar com o senhor de idade que trabalha numa loja perto de sua casa. E recentemente ele expressou sua gratidão pelo carinho que recebe dela. Anos atrás, quando ela passava por um processo de autodestruição, não tinha "vontade" de mostrar seu carinho. Hoje ela passa para ele o mesmo carinho que espera receber de outras pessoas.
Quando eu era criança algumas mulheres negras me amaram de forma "incondicional". Assim aprendi que o amor não precisa ser conquistado. Elas me ensinaram que eu merecia ser amada; seu carinho nutriu meu crescimento espiritual.
Muitos negros, e especialmente as mulheres negras, se acostumaram a não ser amados e a se proteger da dor que isso causa, agindo como se somente as pessoas brancas ou outros ingênuos esperassem receber amor. Uma vez disse para algumas mulheres negras que gostaria de viver em um mundo onde existisse amor, onde pudesse amar e ser amada. Depois disso elas passaram a rir de mim sempre que nos encontrávamos. Para que esse mundo possa existir é preciso acabar com o racismo e todas as formas de dominação. Se escolho dedicar minha vida à luta contra a opressão, estou ajudando a transformar o mundo no lugar onde gostaria de viver.
*O Amor Cura*
O "Poema da Mulher" de Nikki Giovanni foi importante para que eu percebesse o processo de autodestruição das mulheres negras. Publicado no livro, A Mulher Negra, editado por Toni Cade Bambara, esse poema termina assim: "olhe para aquela que teve toda sua vida marcada pela infelicidade porque é a única verdade que conheço". Nesse poema, Giovanni não apenas sugere que as mulheres negras foram socializadas para cuidar dos outros e ignorar suas necessidades, como também mostra como a autodestruição nos faz abandonar aqueles que nos querem. A mulher negra diz: "Como você se atreve a me querer - isso não faz sentido - porque se eu sou uma merda, você deve ser pior ainda".
Esse poema foi escrito em 1968. Algumas décadas depois, as mulheres negras continuam lutando para reconhecer sua dor e encontrar formas de curá-la. Aprender a amar é uma forma de encontrar a cura. A idéia de que o amor significa a nossa expansão no sentido de nutrir nosso crescimento espiritual ou o de outra pessoa, me ajuda a crescer por afirmar que o amor é uma ação. Essa definição é importante para os negros porque não enfatiza o aspecto material do nosso bem-estar. Ao mesmo tempo que conhecemos nossas necessidades materiais, também precisamos atender às nossas necessidades emocionais. Gosto muito daquele trecho da bíblia, nos "Provérbios", que diz: "Um jantar de ervas, onde existe amor, é melhor que uma bandeja de prata cheia de ódio".
Quando nós, mulheres negras, experimentamos a força transformadora do amor em nossas vidas, assumimos atitudes capazes de alterar completamente as estruturas sociais existentes. Assim poderemos acumular forças para enfrentar o genocídio que mata diariamente tantos homens, mulheres e crianças negras. Quando conhecemos o amor, quando amamos, é possível enxergar o passado com outros olhos; é possível transformar o presente e sonhar o futuro. Esse é o poder do amor. O amor cura.
*Tradução de Maísa Mendonça*
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Filha de Raúl Castro luta pelos direitos dos homossexuais em Cuba

Filha de Raúl Castro luta pelos direitos dos homossexuais em Cuba
MICHAEL VOSSda BBC Brasil, em Havana
Há um membro da família Castro que está lutando para introduzir mudanças radicais em Cuba. Não é o novo presidente, Raúl Castro, apesar de sua promessa de promover mudanças "estruturais e conceituais" nessa ilha comunista do Caribe, e sim sua filha, Mariela Castro.
No cargo de diretora do Centro Nacional de Educação Social (Cenesex, na sigla em espanhol), entidade financiada pelo governo, a filha do novo presidente tenta mudar as atitudes dos cubanos em relação às minorias.
No momento, Mariela Castro tenta convencer a Assembléia Nacional a adotar o que seria uma das leis sobre direitos de homossexuais e transexuais mais liberais da América Latina.
O projeto de lei em discussão reconhece uniões de casais do mesmo sexo, assim como direitos de herança. Também dá aos transexuais o direito de se submeter a cirurgia de mudança de sexo, além de permitir que eles troquem de nome em suas carteiras de identidade - tendo ou não feito a operação.
A legislação tem limites, porém. A adoção de crianças por casais do mesmo sexo não é mencionada, assim como a palavra "casamento".
"Muitos casais de homossexuais me pediram para não arriscar que a aprovação da lei fosse atrasada por causa da insistência na palavra 'casamento'", informou Mariela Castro. "Em Cuba, o casamento não é tão importante quanto a família, e desta maneira podemos pelo menos garantir os direitos pessoais e de herança de homossexuais e transexuais", afirmou.
Segundo ela, seu pai apóia seu trabalho, apesar de aconselhá-la a ir devagar. "Eu vi mudanças em meu pai desde que eu era criança. Eu o via como machista e homofóbico. Mas, à medida que cresci e me transformei como pessoa, também o vi mudar", afirmou.
Sua mãe, Vilma Espin, era uma defensora dos direitos das mulheres reconhecida internacionalmente. Para Mariela Castro, são os direitos dos homossexuais e dos transexuais que precisam ser defendidos.
Aconselhamento
Uma vez por semana, um grupo de transexuais se reúne em uma sessão de apoio na mansão em Havana que abriga o Cenesex. Uns são adolescentes, outros já estão na faixa dos 40 anos. Todos se vestem como mulheres. Alguns já passaram por cirurgias de mudança de sexo.
Um psiquiatra, pago pelo governo, oferece aconselhamento, apoio e educação em saúde. "Os transexuais sempre enfrentaram muita injustiça", disse Libia, que fez um curso de cabeleireira depois de participar dos encontros no Cenesex. "Aqui nós somos muito respeitados. Essa instituição ajudou a aumentar nossa auto-estima."
Passado de repressão
Atualmente, Cuba tem uma comunidade gay vibrante, apesar de geralmente discreta. Há uma praia gay muito popular em Playas del Este, a uma curta distância de Havana.
Na capital, oficialmente não há bares gays, mas há um clube que promove festas gays semanais com shows. De acordo com o gerente da casa, que pediu para não ser identificado, as festas gays são as mais concorridas do local. Essas festas com shows são legais, mas não são divulgadas, contando apenas com a propaganda boca-a-boca. Devido ao tratamento dispensado aos homossexuais de Cuba no passado, muitos freqüentadores do clube preferem permanecer anônimos.
Nos primeiros dias da revolução, muitos homossexuais foram mandados para campos de trabalho forçados, para "reeducação" e "reabilitação".
Esses campos não duraram muito tempo, mas ainda assim muitos gays eram recusados em alguns tipos de trabalho por causa de "desvios ideológicos".
Nos anos 80, passeatas eram organizadas para denunciar homossexuais.
Preconceitos arraigados
As relações sexuais entre adultos do mesmo sexo foram legalizadas em Cuba há cerca de 15 anos, mas até muito recentemente eram comuns os casos de repressão policial contra gays.
"Nos primeiros anos da revolução, a maior parte do mundo era homofóbica. O mesmo ocorria aqui em Cuba, o que levou a atos que eu considero injustos", informou Mariela Castro. "O que eu vejo agora é que tanto a sociedade cubana como o governo perceberam esses erros. Há também o desejo de estabelecer medidas que evitem que esses erros voltem a ocorrer."
No entanto, ainda é uma luta difícil. Antigos preconceitos permanecem profundamente arraigados, principalmente entre as gerações mais velhas.
"É como uma doença, ou talvez uma falha de caráter", afirmou um homem, que pediu para não ser identificado, quando questionado sobre o que pensava a respeito dos homossexuais.
Alguns, porém, são mais tolerantes. Falando com as pessoas nas ruas, muitas desaprovam a homossexualidade, mas acreditam que cada um deve ser livre para viver sua própria vida.
Ainda não há garantia de que a Assembléia Nacional irá aprovar o projeto de lei de Mariela Castro. Caso aprove, no entanto, isso vai marcar uma mudança revolucionária na política sexual de Cuba.

Negras e pobres são as maiores vítimas de aborto clandestino

Negras e pobres são as maiores vítimas de aborto clandestino
Plantão Publicada em 31/07/2007 às 18h25m - Jornal o Globo
RIO - Jovens Negras, com poucos recursos e residentes nas regiões mais pobres do Brasil são as principais vítimas do aborto clandestino. Pesquisa divulgada nesta terça-feira pela ONG Ipas Brasil - a pedido do Ministério da Saúde - revela que as Negras têm três vezes mais chances de morrer por complicações - geralmente hemorragias ou infecções - do que as brancas. O estudo - realizado em parceria com a Uerj e baseado em informações colhidas entre 1992 e 2005 - mostra que são realizados cerca de 1,04 milhões de abortos anuais no país - ou seja, de cada quatro gestações, uma é interrompida.
A prática do aborto - considerada crime no Brasil e que pode ser punida com até três anos de prisão - se transformou na terceira causa de morte materna no país.
- O acesso à educação e aos anticoncepcionais para as mulheres é fundamental para se reduzir esse tipo de morte - explicou Leila Adessa, diretora do Ipas Brasil, durante entrevista coletiva para correspondentes estrangeiros.
- O aborto ilegal é um problema de saúde pública e tem que ser enfrentado como tal, seria interessante que os políticos promovam uma mudança na legislação - acrescentou a diretora.
O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, já defendeu a realização de um plebiscito sobre a descriminalização do aborto. Atualmente, o aborto é considerado legal no Brasil apenas em casos de estupro e risco de vida para mãe.
Para a advogada e consultora da Ipas, Beatriz Galli, a lei restritiva tem um impacto grave na saúde e na vida das mulheres jovens e adolescentes, que diante de uma gravidez indesejada tentam abortar em clínicas clandestinas.
- A lei atual criminaliza as mulheres e cria uma situação de injustiça social - afirmou.


sexta-feira, 16 de maio de 2008

120 anos abolição da escravatura: da cachaça ao etanol

120 anos abolição da escravatura: da cachaça ao etanol
Deise Benedito*

Cento e vinte anos pós abolição, não temos o que comemorar nem celebrar. O que nos resta é apenas refletir sobre alguns fatos que se repetem, nos mesmos moldes do período da escravidão!
Estamos diante de um novo ciclo da mesma cana de açúcar que adoçou os pensamentos e enriqueceu os bolsos da coroa portuguesa – marco fundamental da economia nos primeiros tempos da escravização de africanos no Brasil. 120 anos depois da pseudo-aboliçã o, aqui, em São Paulo , estão transformando homens e mulheres negras descentes de africanos em “novos” protagonistas da agonia dos canaviais paulistas em função do enriquecimento do mercado de capitais dos novos fazendeiros de cana de açúcar, tendo, agora, como moeda o etanol.
O novo ciclo da cana de açúcar nas fazendas do interior de São Paulo está impondo uma “mesma” rotina cruel, desumana e degradante aos cortadores de cana de açúcar: jovens, mulheres e homens desprovidos de políticas publicas se deslocam como seus antepassados nos dias 15, 16, 17 de maio de 1888, em busca de trabalho para a sobrevivência nas fazendas de café do interior de vários estados, para trabalharem por um prato de comida!
Para muitos estudiosos, atualmente a vida dos jovens homens e mulheres nos canaviais paulistas se equipara às condições que viveram nossos ancestrais, no seu lado mais perverso, gerando novos empregos onde a movimentação interna da economia deve exportar 7 bilhões de dólares só com o etanol. Mas, obviamente, não se ouve falar em “participação nos lucros”!!! E, bem sabemos, parte desse montante de lucro não será repassado para os cortadores de cana. Nem tão pouco será destinado à implementação de políticas públicas para a população negra e pobre oriunda desses municípios dos rincões do Brasil que fornecem a mão de obra barata e desqualificada para “tecnologia de ponta”. Serão 7 bilhões de dólares; tudo conforme no tempo da escravidão oficial.
O super-esforço no trabalho do corte da cana tem levado à morte centenas de jovens, homens e mulheres, por exaustão! Tudo exatamente como há mais de 120 anos! Agora, os fazendeiros/ usineiros assustados com a repercussão das mortes dos “trabalhadores do corte da cana”, estão adotando “outras” formas de contratação (segundo a pesquisadora Maria Aparecida de Moraes Silva, professora e livre docente da UNESP). A busca de maior produtividade obriga os cortadores de cana de açúcar a colher até 15 toneladas de cana de açúcar por dia. Tal esforço físico, encurtando o tempo de vida dos trabalhadores, provoca a geração de mais empregos!!!
Na década de 1980 e 1990, o tempo que o trabalhador ficava nesse setor era de 15 anos. A partir do ano 2000, segundo o historiador Moraes Silva, a vida “útil” do trabalhador é de 12 anos. Com esse tempo, o “trabalhador começa a ter problemas sérios de câimbras, tendinite e fortes dores na coluna”.É possível imaginar um Brasil que em pleno século XXI vende aviões para os Estados Unidos da América e para outros países; que exporta tecnologia; inteligência de ponta na mecatrônica; que investe na mineralogia; com jovens vivendo nas mesmas condições que seus tetravôs, tataravôs, bisavôs, avôs? A vida dos imigrantes jovens cortadores de cana que vêm das regiões do interior do Piauí e do Maranhão não difere da situação de vida que viveram nossos ancestrais. Com isto se comprova que a após a abolição da escravatura nada mudou para a população negra. Segundo o historiador Jacob Gorender, o ciclo de vida útil dos escravos na agricultura era de 10 a 12 anos, em 1850; isto é, antes da proibição do tráfico de negros provenientes do continente africano.
Segundo Maria Aparecida de Jesus Pino Camargo, um jovem trabalhador anda de 8 a 9 km a pé por dia para chegar ao canavial. Mesmo assim se tem obtido alguns avanços, quando existe a fiscalização do Ministério Publico do Trabalho que exige dos usineiros exames admissionais. Porém, também se sabe a respeito do uso de substâncias entorpecentes, como a cocaína e o crack, nas lavouras, para “dar pique”, além de assassinatos por dívidas pelo consumo da droga e, ainda, podendo ser presos e condenados por tráfico de drogas ou se enveredando pelo submundo do crime para sustentar o vício.
As condições de vida, em geral, são subumanas com alojamentos sem saneamento básico, luz, água potável; apenas uma cama “solteira”, um pequeno fogão, um aparelho de TV e, muitas vezes pagando aluguel de R$ 120,00 por mês contra um “salário” de R$ 500,00.
Nesses meandros, prevalece a “lei da sobrevivência” onde “só os fortes sobrevivem”: aqueles que conseguem cortar de 100 a 120 m de cana por dia e que conseguem ganhar até R$ 800,00 por mês. As mulheres também estão no corte de cana: são jovens, semi-alfabetizadas, muitas vezes chefes de família que têm a incumbência de preparar o jantar e a marmita do dia seguinte. Elas chegam para o corte por volta das 4 horas da manhã e ficam expostas ao trabalho até às 16 horas.
A expansão da cana de açúcar e do mercado de etanol estão provocando uma nova migração para o estado de São Paulo. Este, como sabemos, um dos redutos mais resistentes a abolição da escravatura (1888), tendo a cidade de Campinas como a última cidade a abolir o trabalho escravo. Agora, há um fluxo proveniente de Minas Gerais e da Bahia, do Maranhão e do Piauí. Maria Aparecida Moraes Silva pesquisou estes novos “quase cidadãos” que sem ter onde trabalhar, sem a cultura regional do babaçu, são obrigados a vir para São Paulo cortar cana. Muitos são “expulsos” pelo cultivo da soja, quase nenhum é herdeiro de fazendeiro ou mesmo de produtores.
Por que estaria eu, nesse texto, escrevendo com o foco na juventude do canavial? Por não poder mais admitir tantas omissões e desrespeito com relação à população negra e pobre deste pais. É inadmissível que o Estatuto da Igualdade Racial fique sendo tratado como algo sem qualquer prioridade, quando temos jovens morrendo na região urbana, pelo extermínio, e na zona rural, pela exaustão! Quando vemos empresas receberem milhões e milhões de recursos dos cofres públicos e não retornarem para ações relevantes para sociedade, principalmente com foco na juventude. Quando vejo que no último levantamento realizado pelo Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN), do Ministério da Justiça, o Brasil já conta com uma população prisional de mais de 428 mil presos (quase meio milhão de pessoas). Nos últimos quatro anos, com recursos do Fundo Penitenciário Nacional (FUNPEN), foram criadas mais de 22,7 mil vagas no sistema prisional. Mas não foram preenchidas vagas em número igual com jovens da população negra e indígena nas escolas técnicas!
E o que pensar quando temos a informação de que o Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (PRONASCI) deverá criar 46,8 mil novas vagas nos presídios e penitenciaria (41,3 mil para homens e 5,5 mil para mulheres) até 2011!
Assim como há 120 anos atrás, hoje os debates envolvem os “anti-cotas” por parte da mesma elite temerária quando se exigia indenização do estado pelos prejuízos causados por uma “liberdade” de faz-de-conta. A mesma elite repugnante que, hoje, é contra as cotas, contra qualquer ascensão para a população secularmente submetida ao julgo dos dominantes. Se naquela época tínhamos o a elite repugnante, assustada, temida que usava os jornais para manifestar suas posições anti-abolicionistas , temos hoje o monopólico da midiático racista que nos bombardeia de várias formas, desde a preocupação com nossas características físicas até o barulho do berimbau que fere os ouvidos mais sensíveis da “fina flor” da hipocrisia da elite baiana e alhures!
*Presidente da Fala Preta Organização de Mulheres Negras
Membro do Forum Nacional de Mulheres Negras
Membro do Forum Nacional de Direitos Humanos

Reunião de Planejamento 2008.2
















quarta-feira, 14 de maio de 2008

A Mulher Negra Guerreira está morta...

Há poucas horas, enquanto lutava com a realidade de ser humana e não um mito, a mulher negra guerreira faleceu.
Fontes médicas afirmam que ela morreu de causas naturais, mas os que a conheceram sabem que ela morreu por ficar em silêncio quando deveria ter gritado; por sorrir quando deveria ter liberado sua fúria; e por esconder sua doença para não incomodar a ninguém com sua dor. Ela morreu de overdose de gente em suas costas quando não tinha energia nem para si mesma. Ela morreu de tanto amar homens que não amavam a eles próprios e que a única coisa que lhe davam em troca era um reflexo distorcido. Ela morreu por criar filhos sozinha e por não poder fazer todo o serviço. Ela morreu por causa das mentiras sobre a vida, os homens e racismos que sua avó contou à sua mãe e sua mãe lhe contou. Ela morreu por ser sexualmente molestada quando criança e por ter que carregar a verdade consigo pelo resto da vida, trocando sempre a humilhação por culpa. Ela morreu de tanto ser espancada por alguém que dizia amá-la, e ela permitia que o espancamento continuasse para mostrar que também amava esse alguém. Ela morreu de asfixia, cuspindo sangue por causa dos segredos que guardava tentando abafá-los em vez de se permitir a crise de nervos que lhe era de direito – mas que só as mulheres brancas podem se dar ao luxo de ter. Ela morreu de tanto ser responsável, porque ela era o último degrau de uma escada sem apoios e não havia ninguém que pudesse ampará-la. A mulher negra guerreira está morta. Morreu por causa dos tantos partos de crianças que ela na verdade nunca quis, mas que a moral estranguladora dos que a cercam obrigou-a a ter. Ela morreu por ter sido mãe aos 15, avó aos 30 e um antepassado aos 45. Ela morreu por ter sido derrubada e tiranizada por mulheres não-evoluídas que se diziam sisters, companheiras. Ela morreu por fingir que a vida que levava no século XXI era um momento Kodak e não um pesadelo pós-escravidão. Ela morreu por tolerar qualquer zé mané só para ter um homem em casa.
Ela morreu por falta de orgasmos, porque nunca soube de suas reais capacidades. Ela morreu por causa dos joelhos dolorosamente comprimidos um contra o outro, porque respeito nunca fez parte das preliminares sexuais que lhe eram impostas. Ela morreu por causa da solidão nas salas de parto e abandono nas clínicas de aborto. Ela morreu por causa da comoção nos tribunais onde sentava-se, sozinha, vendo seus filhos serem legalmente linchados. Ela morreu nos banheiros com as veias irreversivelmente abertas pelo descaso geral e pelo ódio que sentia por si mesma. Ela teve morte cerebral combatendo a vida, o racismo, os homens, enquanto seu corpo era arrastado para um matadouro humano para ser espiritualmente mutilado. E algumas vezes quando se recusou a morrer, quando apenas se recusou a entregar os pontos, ela foi assassinada pelas imagens fatais de cabelos loiros, olhos azuis e bundas chapadas, quando foi rejeitada pelos Pelés, Djavans e Ronaldinhos da vida. Às vezes, ela era arrastada para a morte pelo racismo e pelo sexismo, executada pela ignorância hi-tech enquanto carregava a família na barriga, a comunidade na cabeça, e a raça nas costas. A escandalosa mulher guerreira sem voz está morta!!!!!! Ou Ela Está Viva, E Se Mexendo?????? Eu sei que eu ainda estou aqui. E você? Está se sentindo viva? Companheira... cuide-se! (tradução do texto The Strong Black Woman is Dead, de autora desconhecida) Lista de discussão do Projeto PIMNDHESC

Omissão Feminina


Omissão Feminina


VOU ABRIR A MINHA BOCA
VOU ABRIR O MEU CORAÇÃO
NÃO VOU DEIXAR MINHA MENTE LOUCA
PECANDO COM MINHA OMISSÃO

Amiga eu te compreendo
Saiba de verdade te entendo
Sou Mulher sou Feminina
Mas não vou deixar meu nome ir pra medida

Se mulher é a que mais sente
Logo se entende que é a que mais pensa
Não se prende nas diferenças
Mas nas emergências, mas nas emergências.


Meire Luce, Estudante da UCSAL, 1° semestre.

sexta-feira, 9 de maio de 2008

CAMAÇARI, REALIZA O 1º Encontro de Negras e Negros

O Coletivo Feminista MARIAS, saúda todas as irmãs e irmãos Negras e Negros, do município de Camaçari. Para nos esse é mais uma oportunidade de estarmos juntas e juntos na construção de um novo modelo de políticas sociais para o nosso município.
O Movimento Negro de Camaçari a partir da nova concepção de esquerda democrática e popular que se estourou nesse município ganhou notoriedade no cenário político, e isso se manifesta com varias ações pautada deste a primeira conferência municipal de Políticas de Promoção da Igualdade Racial.
Podemos sinalizar algumas vitórias e avanços como: O reconhecimento e titulação da Comunidade Quilombola de Cordoaria. Resgatando a Identidade e dignidade da população nativa do local. A criação de um Observatório de Combate a Discriminação Racial, Violência Contra a Mulher e Homofobia que funcionou pela primeira vez durante o Camafolia a finalidade desse mecanismo de intervenção e importante recurso de combate a crimes de ordem; Racistas, Machistas, Sexistas e Homofobias são de denunciar e coibir crimes contra a pessoa humana. Ações nas escolas municipais com o objetivo de implementar a Lei Federal 10.639/2003, que inclui no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática História e Cultura Afro-Brasileira.
A cara do nosso povo começa a ter visibilidade em um projeto visual inovador que deixa em evidencia a pluralidade presente em nossa cidade. A Beleza Negra é reconhecida em materiais publicitários de boas vindas e de saída da cidade. Não se vê mais pessoas com perfis europeus nas peças de publicidade, o que se vê é a cara da nossa gente, contribuindo com o processo do resgate de nossa auto – estima e cidadania. Um Jovem Negro dando as boas vindas, e também uma Mulher Mãe Negra, afagando seu filho. É importante salientar que todos são moradores da cidade. Temos continuar como tarefa a superar o velho contraste social que o Povo Negro de Camaçari foi vitima. Chegou à hora do nosso povo ocupar e participar do exercício e dos espaços de poder.

Poder para o Povo Preto!

Juventude Negra tem a maioria da votação das Prioridades na 1° Conferência Nacional de Juventude.

A Juventude Negra teve a maior votação das prioridades foram 634 votos para que seja reconhecido e aplicado, pelo poder público, transformando em políticas públicas de Juventude as resoluções do 1º Encontro Nacional de Juventude Negra (ENJUNE), priorizando as mesmas como diretrizes étnico/raciais de/para/com as Juventudes. O 1º Encontro Nacional de Juventude Negra aconteceu na cidade de Lauro de Freitas, no bairro de Itinga entre os dias 27,28 e 29 de Julho de 2007. O ENJUNE contou com a participação 600 jovens de todo o país e foi um marco para a Juventude Negra Brasileira, e desse marco foi criado a Fórum Nacional de Juventude Negra que está presente em todos os estados Brasileiros. Aqui na Bahia o Fórum Baiano de Juventude Negra é coordenado pela Jovem Carla Akotirene e Elder Costa. O Coletivo Feminista MARIAS compõe o Fórum Baiano de Juventude Negra discutindo as questões de Feminismo e Diversidade Sexual.

Nós, Mulheres Brasileiras, não queremos que "la Prelatura del Opus Dei" defina nossas VIDAS e nossos desejos

Resposta ao Jornal ATARDE
Por: Cecília Sardenberg

Em julho de 2004, durante a realização da I Conferência Nacional de Políticas para Mulheres, duas mil mulheres, representantes de cerca de outras 300.000 que participaram das Conferências Municipais e Estaduais em todo o país, aprovaram a Legalização do Aborto voluntário no Brasil e sua inclusão no Plano Nacional de Políticas para Mulheres. Uma significativa e histórica vitória das Mulheres Brasileiras, em defesa de sua autonomia e pelo livre direito de escolha.
Essa decisão foi reafirmada na II Conferência Nacional de Políticas para Mulheres em agosto de 2007, por cerca de três mil delegadas presentes.
Vários setores conservadores vêm se articulando para impedir a consolidação dessa grande conquista das Mulheres Brasileiras. Grande parte dessas forças está vinculada a igrejas e religiões, notadamente patriarcais, como é o caso da Igreja Católica, que há mais de dois milênios, sempre sob o domínio dos homens, prega e contribui para a subordinação das mulheres e para o controle do exercício da sua sexualidade, desrespeitando os direitos reprodutivos e sexuais das mulheres, arduamente conquistados.
De fato, nesses últimos anos, aqui no Brasil, setores da Igreja Católica vem-se utilizando os mais diversos ardis, não apenas para impedir que nós, mulheres, desfrutemos desses direitos - a exemplo das muitas tentativas por todo país de proibir, por vias jurídicas e legislativas inconstitucionais, a distribuição da chamada "pílula do dia seguinte" - mas, principalmente, para continuar criminalizando a interrupção da gravidez, valendo-se, para tanto, de estratégias espúrias e condenáveis, como aconteceu recentemente no Rio de Janeiro, com a distribuição de fetos de plástico nas missas de domingo com a finalidade de chocar os "fiéis". A matéria assinada pelo jornalista Carlos Alberto Di Franco, publicada na página editorial do Jornal A Tarde de 5/5/2008, segue por esse caminho. Nesse artigo, sob o título "Banalização da Vida", Di Franco vale-se, vergonhosa e despudoradamente, da trágica morte da menina Isabella, que tem chocado a todas e todos nós, com o intuito de ganhar a opinião pública pela condenação ao aborto, assim afirmando: "... para a lógica pró-aborto, Isabella pode ser morta e jogada fora com as bênçãos do Estado, desde que esteja ainda no ventre materno." E continua: "Isabella é uma pessoa. Um embrião e um feto são também uma pessoa, tanto do ponto de vista científico como filosófico." Afirma ele, ainda, que "é falsa a afirmação que o feto faz parte do corpo da mãe". Para ele, nós, mulheres, não passamos de "hospedeiras." Deve ser por isso mesmo – afinal, que importância têm meras hospedeiras? - que o referido autor banaliza a vida das mulheres, não levando em consideração as altas taxas de mortalidade materna registradas no país e na Bahia, em particular, por conta do aborto clandestino. Argumenta ele que embora exista suporte científico para legitimar o status do embrião e feto como "pessoa", a questão se desloca para o plano jurídico efilosófico. Fala ele, aliás, de uma "ética filosófica", esquecendo-se que se trata, pois, de um valor que não é absoluto e sim, historicamente construído – e que historicamente, tal construção tem se valido de uma "ética filosófica" patriarcal, imbuída de uma moral religiosa, que não cabe em um Estado constitucionalmente "laico".Mas há de se compreender porque o Sr. Di Franco assim procede. Ele é consultor em "estratégia de mídia", com doutorado pela Universidade de Navarra, conhecidainstituição criada por St. Josemaría Escrivá de Balaguer, um dos criadores da Opus Dei, organização que tem se mostrado inimiga das mulheres. Aliás, na página da internet dessa universidade, consta que "la Prelatura del Opus Dei presta los medios espirituales y pastorales necesarios para que la Universidad pueda mantener y desarrollar su identidad cristiana."Ora, nós, mulheres brasileiras, não queremos que "la Prelatura del Opus Dei" defina nossas vidas e nossos desejos. Queremos, sim, a implementação do PlanoNacional de Políticas para Mulheres e, com ele, a legalização da interrupção voluntária da gravidez, para que cada uma de nós possa decidir sobre nossopróprio corpo.
Cecília Sardenberg
Diretora do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobrea Mulher – NEIM/UFBA

Alisando o Nosso Cabelo

Alisando o Nosso Cabelo
BELL HOOKS


Apesar das diversas mudanças na política racial, às mulheres negras continuam obcecadas com os seus cabelos, e o alisamento ainda é considerado um assunto sério. Insistem em se aproveitar da insegurança que nós mulheres negras sentimos com respeito a nosso valor na sociedade de supremacia branca!

Nas manhãs de sábado, nos reuníamos na cozinha para arrumar o cabelo, quer dizer, para alisar os nossos cabelos. Os cheiros de óleo e cabelo queimado misturavam-se com os aromas dos nossos corpos acabados de tomar banho e o perfume do peixe frito.
Não íamos ao salão de beleza. Minha mãe arrumava os nossos cabelos. Seis filhas: não havia a possibilidade de pagar cabeleireira. Naqueles dias, esse processo de alisar o cabelo das mulheres negras com pente quente (inventado por Madame C. J. Waler) não estava associado na minha mente ao esforço de parecermos brancas, de colocar em prática os padrões de beleza estabelecidos pela supremacia branca. Estava associado somente ao rito de iniciação de minha condição de mulher. Chegar a esse ponto de poder alisar o cabelo era deixar de ser percebida como menina (a qual o cabelo podia estar lindamente penteado e trançado) para ser quase uma mulher. Esse momento de transição era o que eu e minhas irmãs ansiávamos.
Fazer chapinha era um ritual da cultura das mulheres negras, um ritual de intimidade. Era um momento exclusivo no qual as mulheres (mesmo as que não se conheciam bem) podiam se encontrar em casa ou no salão para conversar umas com as outras, ou simplesmente para escutar a conversa. Era um mundo tão importante quanto à barbearia dos homens, cheia de mistério e segredo.
Tínhamos um mundo no qual as imagens construídas como barreiras entre a nossa identidade e o mundo eram abandonadas momentaneamente, antes de serem reestabelecidas. Vivíamos um instante de criatividade, de mudança.
Eu queria essa mudança mesmo sabendo que em toda a minha vida me disseram que eu era "abençoada" porque tinha nascido com "cabelo bom" – um cabelo fino, quase liso –, não suficientemente bom, mais ainda assim era bom. Um cabelo que não tinha o "pé na senzala", não tinha carapinha, essa parte na nuca onde o pente quente não consegue alisar. Mas esse "cabelo bom" não significava nada para mim quando se colocava como uma barreira ao meu ingresso nesse mundo secreto da mulher negra.
Eu regozijei de alegria quando a minha mãe finalmente decretou que eu poderia me somar ao ritual de sábado, não mais como observadora, mas esperando pacientemente a minha vez. Sobre este ritual escrevi o seguinte:

Para cada uma de nós, passar o pente quente é um ritual importante. Não é um símbolo de nosso anseio em tornar-nos brancas. Não existem brancos no nosso mundo íntimo. É um símbolo de nosso desejo de sermos mulheres.
É um gesto que mostra que estamos nos aproximando da condição de mulher [...] Antes que se alcance a idade apropriada, usaremos tranças; tranças que são símbolo de nossa inocência, juventude, nossa meninice. Então, as mãos que separam, penteiam e traçam nos confortam. A intimidade e a sina nos confortam.
Existe uma intimidade tamanha na cozinha aos sábados quando se alisa o cabelo, quando se frita o peixe, quando se fazem rodadas de refrigerante, quando a música soul flutua sobre a conversa.
É um instante sem os homens. Um tempo em que trabalhamos como mulheres para satisfazer umas as necessidades das outras, para nos proporcionarmos um bem-estar interior, um instante de alegrias e boas conversas.

Levando em consideração que o mundo em que vivíamos estava segregado racialmente, era fácil desvincular a relação entre a supremacia branca e a nossa obsessão pelo cabelo. Mesmo sabendo que as mulheres negras com cabelo liso eram percebidas como mais bonitas do que as que tinham cabelo crespo e/ou encaracolado, isso não era abertamente relacionado com a idéia de que as mulheres brancas eram um grupo feminino mais atrativo ou de que seu cabelo liso estabelecia um padrão de beleza que as mulheres negras estavam lutando para colocar em prática.
Esse momento é um marco histórico e ideológico do qual emergiu o processo de alisamento do cabelo de mulheres negras. Esse processo foi ampliado de maneira tal que estabeleceu um espaço real de formação de íntimos vínculos pessoais da mulher negra mediante uma experiência ritualística compartilhada.
O salão de beleza era um espaço de aumento da consciência, um espaço em que as mulheres negras compartilhavam contos, lamúrias, atribulações, fofocas – um lugar onde se poderia ser acolhida e renovar o espírito.
Para algumas mulheres, era um lugar de descanso em que não se teria de satisfazer as exigências das crianças ou dos homens. Era a hora em que algumas teriam sossego, meditação e silêncio. Entretanto, essas implicações positivas do ritual do alisamento do cabelo ponderavam, mas não alteravam as implicações negativas. Essas existiam concomitantemente.
Dentro do patriarcado capitalista – o contexto social e político em que surge o costume entre os negros de alisarmos os nossos cabelos –, essa postura representa uma imitação da aparência do grupo branco dominante e, com freqüência, indica um racismo interiorizado, um ódio a si mesmo que pode ser somado a uma baixa auto-estima.
Durante os anos 1960, os negros que trabalhavam ativamente para criticar, desafiar e alterar o racismo branco, sinalavam a obsessão dos negros com o cabelo liso como um reflexo da mentalidade colonizada. Foi nesse momento em que os penteados afros, principalmente o black, entraram na moda como um símbolo de resistência cultural à opressão racista e fora considerado uma celebração da condição de negro(a).
Os penteados naturais eram associados à militância política. Muitos(as) jovens negros(as), quando pararam de alisar o cabelo, perceberam o valor político atribuído ao cabelo alisado como sinal de reverência e conformidade frente às expectativas da sociedade.
Entretanto, quando as lutas de libertação negra não conduziram à mudança revolucionária na sociedade, não se deu mais tanta atenção à relação política entre a aparência e a cumplicidade com o segregacionismo branco, e aqueles que outrora ostentavam os seus blacks começaram a alisar o cabelo.
Sem ficar atrás dessa manobra para suprimir a consciência negra e os esforços das pessoas negras por serem sujeitos que se autodefinem, as empresas brancas começaram a reconhecer os negros, e de maneira especialíssima, às mulheres negras, como consumidoras potenciais de produtos que poderiam ser subministrados, incluindo aqueles para os cuidados com o cabelo. Permanentes especialmente concebidos para as mulheres negras eliminaram a necessidade do pente quente e da chapinha. Esses permanentes não só custavam mais caro, mas também levavam todas as economias e ganâncias das comunidades negras, especificamente dos bolsos das mulheres negras que anteriormente colhiam benefícios materiais (ver Como o Capitalismo Desenvolveu a América Negra, de Manning Marable, South End Pree).
O contexto do ritual havia desaparecido, não haveria mais a formação de vínculos íntimos e pessoais entre as mulheres negras. Sentadas embaixo de secadores barulhentos, as mulheres negras perderam um espaço para o diálogo, para a conversa criativa.
Desposadas desses rituais de formação de íntimos vínculos pessoais positivos, que rodeavam tradicionalmente a experiência, o alisamento parecia cada vez mais um significante da opressão e da exploração da ditadura branca.
O alisamento era claramente um processo no qual as mulheres negras estavam mudando a sua aparência para imitar a aparência dos brancos. Essa necessidade de ter a aparência mais parecida possível à dos brancos, de ter um visual inócuo, está relacionada com um desejo de triunfar no mundo branco. Antes da integração, os negros podiam se preocupar menos sobre o que os brancos pensavam sobre o seu cabelo.
Em discussão sobre a beleza com mulheres negras em Spelman College , as estudantes falavam sobre a importância de ter o cabelo liso quando se procura um emprego. Estavam convencidas, e provavelmente com toda a razão, de que sua oportunidade de encontrar bons empregos aumentaria se tivessem cabelo alisado. Quando se pediam mais detalhes sobre essa assertiva, essas mulheres se concentravam na conexão entre as políticas radicais e os penteados naturais, seja com ou sem tranças. Uma jovem que tinha o cabelo natural e curto falava até mesmo em comprar uma peruca de cabelo liso e comprido na hora de procurar emprego.
Nenhuma das participantes pensava na possibilidade de que nós mulheres negras éramos livres para usar os nossos cabelos naturais sem refletir sobre as possíveis conseqüências negativas. Com freqüência, os adultos negros, os mais velhos, especialmente os pais, respondiam negativamente aos penteados naturais. Contei ao grupo que, quando cheguei em casa com o cabelo trançado logo após conseguir um emprego em Yale, os meus pais me disseram que eu tinha um aspecto desagradável.
Apesar das diversas mudanças na política racial, as mulheres negras continuam obcecadas com os seus cabelos, e o alisamento ainda é considerado um assunto sério. Por meio de diversas práticas insistem em se aproveitar da insegurança que nós mulheres negras sentimos a respeito de nosso valor na sociedade de supremacia branca. Conversando com grupos de mulheres em diversas cidades universitárias e com mulheres negras em nossas comunidades, parece haver um consenso geral sobre a nossa obsessão com o cabelo, que geralmente reflete lutas contínuas com a auto-estima e a auto-realizaçã o. Falamos sobre o quanto as mulheres negras percebem seu cabelo como um inimigo, como um problema que devemos resolver, um território que deve ser conquistado. Sobretudo, é uma parte de nosso corpo de mulher negra que deve ser controlado. A maioria de nós não foi criada em ambientes nos quais aprendêssemos a considerar o nosso cabelo como sensual, ou bonito, em um estado não processado. Muitas de nós falamos de situações nas quais pessoas brancas pedem para tocar o nosso cabelo natural e demonstram grande surpresa quando percebem que a textura é suave ou agradável ao toque.
Aos olhos de muita gente branca e outras não negras, o black parece palha de aço ou um casco. As respostas aos estilos de penteado naturais usados por mulheres negras revelam comumente como o nosso cabelo é percebido na cultura branca: não só como feio, como também atemorizante. Nós tendemos a interiorizar esse medo.O grau em que nos sentimos cômodas com o nosso cabelo reflete os nossos sentimentos gerais sobre o nosso corpo.
Em nosso grupo de apoio de mulheres negras, Irmãs do Yam, conversávamos sobre como não gostávamos de nossos corpos, especialmente nossos cabelos. Sugeri ao grupo que considerássemos o nosso cabelo como se ele não fizesse parte do nosso corpo, mas que se percebesse como algo separado, de novo um território que deve ser controlado, domado.
Para mim era importante que fosse vinculada a necessidade de controlar o cabelo com a repressão sexual. Tendo curiosidade sobre o que passavam as mulheres negras que faziam chapinha ou que fizessem amaciamento, permanente ou outras químicas, quando refletiam sobre a relação do cabelo alisado e a prática sexual, perguntei se as pessoas se preocupavam com o cabelo delas, se temiam que seus pares tocassem os seus cabelos. Sempre tive a impressão de que o cabelo alisado chama a atenção pelo desejo de que permaneça no mesmo lugar. Não foi surpreendente que muitas mulheres negras respondessem que se sentiam incomodadas se as pessoas se concentravam e davam muita atenção aos seus cabelos, sentiam como se o seu cabelo estivesse desordenado, fora de controle. Isso porque aquelas de nós que já liberaram o seu cabelo e deixamos que ele se movimente na direção que ele queira, freqüentemente, recebemos comentários negativos.
Olhando fotografias de mim mesma e das minhas irmãs de quando tínhamos o cabelo alisado no segundo grau, percebi que parecíamos ter mais idade do que quando deixamos o cabelo natural. É irônico viver em uma cultura que enfatiza tanto a necessidade das mulheres serem ou parecerem jovens, mas por outro lado incentiva as mulheres negras a mudarem os seus cabelos de maneira tal que parecemos ser mais velhas.
No último semestre, estávamos lendo O Olho mais azul, de Toni Morrison, em uma aula de Literatura. Pedi aos estudantes que escrevessem textos autobiográficos, que refletissem sobre o que eles pensavam sobre a relação entre raça e beleza física. Uma grande maioria das mulheres negras escreveu sobre os seus cabelos. Quando eu perguntei isoladamente a algumas delas porque continuavam alisando o cabelo, muitas atestaram que os penteados naturais não ficavam bonitos nelas, ou que demandavam muito trabalho. Emily, uma das minhas favoritas, de cabelo curto sempre alisava, e eu lhe questionava e desafiava, até que ela me explicou de maneira muito convincente que um penteado natural ficaria horrível no seu rosto, que ela não tinha a fronte nem a estrutura óssea apropriada.
No semestre seguinte, nos reencontramos e ela me contou que durante as férias tinha ido ao salão fazer o permanente e, enquanto esperava, pensou sobre as leituras e as discussões de sala de aula e percebeu que estava realmente muito incomodada e amedrontada com a idéia de que as pessoas achassem que ela não seria mais atraente se não alisasse o cabelo. Reconheceu que esse medo estava enraizado nos sentimentos de baixa auto-estima. Decidiu fazer uma mudança e se surpreendeu, pois estava linda e muito atraente. Conversamos bastante sobre como dói perceber a relação entre a opressão racista e os argumentos que usamos para convencer a nós mesmas e aos outros de que não somos belos ou aceitáveis como somos.
Em inúmeras discussões com mulheres negras sobre o cabelo, ficou constatado um manifesto de que um dos fatores mais poderosos que nos impedem de usarmos o cabelo sem química é o temor de perder a aprovação e a consideração das outras pessoas. As mulheres negras heterossexuais falaram sobre o quanto os homens negros respondem de forma mais favorável quando se tem um cabelo liso ou alisado. Entre as homossexuais, muitas afirmam que não alisavam o cabelo por uma reflexão de que esse gesto estaria vinculado à heterossexualidade e à necessidade de aprovação do macho.
Lembro-me de ter visitado uma amiga com seu par, um homem negro, em Nova York , faz anos, e tivemos uma intensa discussão sobre o cabelo. Ele se encarregou de me dizer que eu poderia ser uma irmã excelente (bonita) se fizesse algo ("dar um jeito") com o meu cabelo. Por dentro pensei que a minha mãe o tinha contratado. O que me lembro é do espanto quando com calma e entusiasmo garanti que eu gostava do tato no cabelo não processado.
Quando os estudantes lêem sobre raça e beleza física, várias mulheres negras descrevem fases da infância em que estavam atormentadas e obcecadas com a idéia de ter cabelos lisos, já que estavam tão associados à idéia de essas serem desejadas e amadas. Poucas mulheres receberam apoio de suas famílias, amigos(as) e parceiros(as) amorosos(as) quando decidiam não alisar mais o cabelo. E temos várias histórias para contar sobre os conselhos recebidos de todo o mundo, até mesmo de pessoas completamente estanhas, que se sentem gabaritadas para atestar que parecemos mais bonitas se "arrumamos" (alisamos) o cabelo.
Quando eu ia para a minha entrevista de emprego em Yale, conselheiras brancas que nunca haviam feito nenhum comentário sobre o meu cabelo me animaram para que eu não usasse tranças ou um penteado natural grande (black) na entrevista. Elas não disseram "alisa o seu cabelo", sugeriam que eu mudasse o meu estilo de cabelo de modo tal que parecesse ao máximo ao cabelo delas, indicando certo conformismo. Usei tranças e ninguém pareceu notar. Quando fui contratada, não perguntei se importava ou não que eu usasse tranças. Conto essa história aos meus alunos para que saibam que nem sempre temos de renunciar a nossa capacidade de ser pessoas que se autodefinem para ter sucesso no emprego.
Já percebi que o meu estilo de cabelo às vezes incomoda os estudantes durante as minhas conferências. Certa vez, em uma conferência sobre mulheres negras e liderança, entrei em um auditório repleto com o meu cabelo sem química, fora de controle e desordenado. A grande maioria das mulheres negras que ali estavam tinham o cabelo alisado. Muitas delas foram hostis com olhares de desdém. Senti como se estivesse sendo julgada, como uma marginal, indesejável. Tais julgamentos se fazem especialmente direcionado às mulheres negras nos Estados Unidos que resolvem usar dreads. São consideradas, com toda razão, da antítese do alisamento, o que torna o seu estilo uma decisão política. Freqüentemente, as mulheres negras expressam desprezo por aquelas de nós que escolhemos essa aparência.
Curiosamente, ao mesmo tempo em que o cabelo natural é um motivo de desatenção e desdém, somos testemunhas da volta da moda das pinturas, mechas loiras, cabelo comprido. Em seus escritos, minhas alunas negras descreveram o uso de mechas amarelas em suas cabeças quando eram meninas, para fingir ter o cabelo comprido e loiro. Recentemente as cantoras que estão trabalhando para ser atrativas para a platéia branca, para serem consideradas como artistas que ampliaram o público, usam implantes e apliques para conseguir cabelos compridos e lisos. Parece haver um nexo definido entre a popularidade de uma artista negra com auditórios brancos e o grau em que ela trabalha para parecer branca, ou para encarnar aspectos do estilo branco. Tina Tuner e Aretha Franklin foram percussoras dessa tendência, as duas pintavam o cabelo de loiro. Na vida cotidiana vemos cada vez mais mulheres usando cada vez mais químicas para ter cabelo liso e loiro.
Em uma de minhas conversas que se concentravam na construção social da identidade da mulher negra dentro de uma sociedade sexista e racista, uma mulher negra veio até mim no final da discussão e me contou que sua filha de sete anos de idade estava deslumbrada com a idéia do cabelo loiro, de tal forma que ela havia feito uma peruca que imitava os cachinhos dourados. Essa mãe queria saber o que estava fazendo de errado em sua tutela, já que sua casa era um lugar onde a condição de negro era afirmada e celebrada. Mas ela não havia considerado que o seu cabelo alisado era uma mensagem para a sua filha: nós mulheres negras não somos aceitas a menos que alteremos nossa aparência ou textura do cabelo.
Recentemente conversei com uma de minhas irmãs mais novas sobre o seu cabelo. Ela usa tintura de cores berrantes em diversos tons de vermelho. No que lhe diz respeito, essas escolhas de cabelo pintado e alisado estavam diretamente relacionadas com sentimentos de baixa auto-estima. Ela não gosta dos seus traços e acredita que o estilo de cabelo transforma a sua fisionomia. O que eu percebia era que a escolha dela na realidade chamava mais atenção para a sua fisionomia e era tudo o que ela pretendia ocultar.
Quando ela comentou que com essa aparência ela recebia mais atenção e elogios, sugeri que a reação positiva podia ser resposta direta da sua própria projeção de um alto nível de auto-satisfaçã o. As pessoas podem estar respondendo a isso e não à tentativa de ocultar ou mascarar o seu fenótipo. Conversamos sobre as mensagens que estava mandando para as suas filhas de pele escura: que elas certamente seriam aceitas se alisassem os seus cabelos!
Certo número de mulheres afirmou que essa é uma estratégia de sobrevivência: é mais fácil de funcionar nessa sociedade com o cabelo alisado. Os problemas são menores; ou, como alguns dizem, "dá menos trabalho" por ser mais fácil de controlar e por isso toma menos tempo. Quando respondi a esse argumento em uma discussão em Spelman College , sugeri que talvez o fato de gastar tempo com nós mesmas cuidando de nossos corpos é também um reflexo de uma sensação de que não é importante ou de que nós não merecemos tal cuidado. Nesse grupo e em outros, as mulheres negras falavam de ter sido criadas em famílias que ridicularizavam ou consideravam desperdício gastar muito tempo com a aparência.
Independentemente da maneira como escolhemos individualmente usar o cabelo, é evidente que o grau em que sofremos a opressão e a exploração racistas e sexistas afeta o grau em que nos sentimos capazes tanto de auto-amor quanto de afirmar uma presença autônoma que seja aceitável e agradável para nós mesmas. As preferências individuais (estejam ou não enraizadas na autonegação) não podem escamotear a realidade em que nossa obsessão coletiva com alisar o cabelo negro reflete psicologicamente como opressão e impacto da colonização racista.
Juntos racismo e sexismo nos recalcam diariamente pelos meios de comunicação. Todos os tipos de publicidade e cenas cotidianas nos aferem a condição de que não seremos bonitas e atraentes se não mudarmos a nós mesmas, especialmente o nosso cabelo. Não podemos nos resignar se sabemos que a supremacia branca informa e trata de sabotar nossos esforços por construir uma individualidade e uma identidade.
Como nas lutas organizadas que aconteceram nos anos 1960 e princípios da década de 1970, as mulheres negras, como indivíduos, devemos lutar sozinhas por adquirir a consciência crítica que nos capacite para examinar as questões de raça e beleza e pautar nossas escolhas pessoais de um ponto de vista político.
Existem momentos em que penso em alisar o meu cabelo só por capricho, aí me lembro que, mesmo que esse gesto pudesse ser simplesmente festivo para mim, uma expressão individual de desejo, eu sei que gesto semelhante traria outras implicações que fogem ao meu controle. A realidade é que o cabelo alisado está vinculado historicamente e atualmente a um sistema de dominação racial que é incutida nas pessoas negras, e especialmente nas mulheres negras de que não somos aceitas como somos porque não somos belas.
Fazer esse gesto como uma expressão de liberdade e opção individual me faria cúmplice de uma política de dominação que nos fere. É fácil renunciar a essa liberdade. É mais importante que as mulheres façam resistência ao racismo e ao sexismo que se dissemina pelos meios de comunicação, e tratarem para que todo aspecto da nossa auto-representaçã o seja uma feroz resistência, uma celebração radical de nossa condição e nosso respeito por nós mesmas.
Mesmo não tendo usado o cabelo alisado por muito tempo, isso não significa que eu era capaz de desfrutar ou realmente apreciar meu cabelo em estado natural. Durante anos, ainda considerava isso um problema. Ele não era natural o suficiente, crespo o necessário para fazer um black interessante e decente, o cabelo era muito fino. Essas queixas expressavam a minha continua insatisfação. A verdadeira liberação do meu cabelo veio quando parei de tentar controlar em qualquer estado e o aceitei como era.
Só há poucos anos é que deixei de me preocupar com o quê os outros possam dizer sobre o meu cabelo. Só nesses últimos anos foi que eu sentir consecutivamente o prazer lavando, penteando e cuidando do meu cabelo. Esses sentimentos me lembram o aconchego e o deleite que eu sentia quando menina, sentada entre as pernas de minha mãe, sentindo o calor do seu corpo e do seu ser enquanto ela penteava e trançava o meu cabelo.
Em uma cultura de dominação e antiintimidade, devemos lutar diariamente por permanecer em contato com nos mesmos e com os nossos corpos, uns com os outros. Especialmente as mulheres negras e os homens negros, já que são nossos corpos os que freqüentemente são desmerecidos, menosprezados, humilhados e mutilados em uma ideologia que aliena. Celebrando os nossos corpos, participamos de uma luta libertadora que libera a mente e o coração.



Revista Gazeta de Cuba – Unión de escritores y Artista de Cuba, janeiro-fevereiro de 2005. Tradução do espanhol: Lia Maria dos Santos.

terça-feira, 6 de maio de 2008

Lésbicas evitam ir ao ginecologista

Lésbicas evitam ir ao ginecologista - 05/05/2008
Mulheres Lésbicas e Bissexuais sentem-se inibidas em procurar ajuda doginecologista. Embora não seja possível estimar quantas não vão aosconsultórios, o movimento de LESBICAS queixa-se sobre afalta de um espaço adequado para falar sobre sua sexualidade. Muitassaem dos consultórios com recomendações para usar pílulasanticoncepcionais ou camisinha masculina. Sem informação também achamque só vai ter câncer no colo do útero quem tem relaçõesheterossexuais, por isso não fazem o exame preventivo. Um dos planos do Sistema Único de Saúde (SUS) do Ministério da Saúde é assegurar a assistência ginecológica de qualidade e atenção à saúdeintegral em todas as fases da vida, para as mulheres LÉSBICAS, BISSEXUAIS e TRANSEXUAIS. Para isso, uma das medidas será a inclusãode conteúdos relacionados à população LGBT na formação dosprofissionais da saúde de nível técnico e da graduação, bem comoabordagem do tema nos processos de Educação Permanente em serviço dosprofissionais do SUS."Nem todos os profissionais de saúde estão preparados para lidar sempreconceitos com questões de sexualidade. Alguns sabem pouco sobre avida e as práticas sexuais de MULHERES que transam com MULHERES,"revela Ana Maria Costa, diretora do Departamento de Apoio à GestãoParticipativa do ministério e autora do documento Saúde da Populaçãode, LÉSBICAS, GAYS, BISSEXUAIS, TRAVESTIS e TRANSEXUAIS.O quadro da falta de cuidado vai contra as recomendações do Ministérioda Saúde. "Mesmo que elas não tenham uma relação sexual compenetração, não usem contraceptivos devem consultar-se anualmente comum profissional da área", ressalta Ana Costa.Independente da orientação sexual, o ministério sugere o examepreventivo do câncer de colo de útero a cada três anos para aquelasque têm entre 25 e 59 anos e exames anuais para aquelas com citologiaalterada. A mamografia é recomendada uma vez a cada dois anos, para asentre 50 e 69 anos.Representante das LÉSBICAS no Conselho Nacional de Saúde, Carmen LúciaLuiz, conta que em um encontro de lésbicas no Piauí, onde havia umônibus disponível do Sesc para exame do papanicolau, de 102 mulheresapenas duas fizeram o preventivo."Não sabemos se elas acham que não precisam porque têm relações commulheres, ou se têm medo do espéculo (bico de pato), aparelho usado nopapanicolau. Há muitas questões que envolvem o assunto e ainda nãosabemos quais são", alerta Carmen.Outra sugestão que consta no documento é a inclusão de dados nos formulários do SUS e sistemas de informação sobre a orientação sexuale identidade de gênero para realização de estatísticas e estudos. OSUS também já recomenda que seus profissionais de saúde anotem noprontuário de transexuais o nome social do indivíduo. Um travestichamado Roberto deverá ser chamado pelo nome Roberta, se assim elepreferir. O direito é garantido pela Carta dos Usuários da Saúde doSUS. O tema saúde da população das lésbicas ganha visibilidade durante a 1ªConferencia Nacional de, Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis eTransexuais a ser realizada entre os dias 6 e 8 de junho, em Brasília,sob a organização da Secretaria Nacional de Direitos Humanos daPresidência da República.

Saiba mais no site http://www.conferencianacionalglbt.com.br/
Mais informações
Atendimento ao cidadão 0800 61 1997 ou 61 3315-2425
Atendimento à Imprensa(61) 3315-3580 ou 3315-2351