segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

A moda é transgredir as divisões de gêneros

Por RUTH LA FERLA
"Ouvi dizer que, na Austrália, os homens estão usando meia-calça", disse Chuong Pham. Ele admitiu que meias-calças para homens podem ser um pouco radicais. Mas Pham, 28, engenheiro que vive em Manhattan, não pensou duas vezes antes de vestir jeans justos com uma camiseta emprestada de sua mãe e recortada para ficar mais sexy.
Ele explicou: "Está acontecendo uma transição, de homens usando roupas de mulheres. Antigamente, quem fazia isso eram apenas as pessoas mais de vanguarda. Hoje isso já é muito mais comum".
É tão comum que Pham e sua turma -em sua maioria americanos urbanos na casa dos 20 anos- estão revendo os conceitos padronizados sobre a vestimenta própria para cada gênero, modificando códigos, pondo convenções de cabeça para baixo e violando antigas normas.
"Minha geração é menos convencional que a anterior", disse o cabeleireiro Brandon Dailey, 26, de Manhattan. "Nossas cabeças estão mais abertas a coisas diferentes. Às vezes isso significa misturar as roupas que vestimos." Dailey admitiu que talvez nunca venha a usar uma saia, mas que não vê mal algum em trabalhar "de camisa longa, drapejada, com calça realmente justa".
Audrey Reynolds, 25, uma conhecida dele, também anda brincando de confundir os gêneros. Trajando jaqueta de motociclista e coturnos surrados, ela insistiu: "Todas as linhas deveriam ser unissex. Uma roupa boa é uma roupa boa, não importa para quem tenha sido feita originalmente."
Esse tipo de ambiguidade cuidadosamente calibrada pode ter sido, no passado, expressão de um espírito renegado. Hoje, porém, parece pouco mais subversivo que trajar preto, o mais recente gesto contracultural a ter conquistado o grande público. O look é andrógino, sim -mas com uma diferença.
Nos anos 1970, provavelmente a última época em que a mistura de gêneros nas roupas esteve tão presente na cultura quanto hoje, a novidade surgiu em parte do tipo de pensamento feminista que sugeria que meninas deveriam brincar com Lego, e meninos, com bonecas. "O que temos hoje é algo novo", comentou a psicóloga Diane Ehrensaft, que escreve sobre gêneros. Esse algo não diz respeito necessariamente à ideologia ou à orientação sexual de cada um, ou, como ela ressalta, "à identidade fundamental de cada um, masculina ou feminina".
Aquilo que Ehrensaft batizou de "fluidez de gênero" ainda é, para ela, uma forma de rebelião que sugere que "os jovens já não aceitam ser limitados pelas normas segundo as quais rapazes vestem isso e garotas, aquilo. Existe uma cultura de pares na qual esse tipo de confusão entre gêneros não só é aceitável, como bacana".
As mulheres vêm incorporando calças, jaquetas de motociclista e botas de combate em seus guarda-roupas desde que Amelia Earhart trocou seu colar de pérolas por um traje de aviadora. Cada vez mais, porém, são homens que não se constrangem em buscar peças novas nos guarda-roupas de suas mães, alguns deles em nome da moda, outros à procura de algo que caia bem. Alguns deles podem estar pautando seu estilo pela imagem de Pete Wentz, o músico americano que demonstra no YouTube como passar delineador nos olhos, ou por Adam Lambert, o segundo colocado no programa "American Idol", que converteu olhos pintados de negro e esmalte de unhas azul-negro em sua marca registrada fashion. Outros se espelham em Johnny Depp -caso do estudante Dyllan White, que se inspirou no ator ao adotar um corte de cabelo unissex e "universal".
Para Sharon Graubard, executiva sênior da Stylesight, firma de Nova York que traça previsões de tendências, o pensamento de White aponta para uma mudança grande e fundamental. "Vejo nas ruas casais jovens em que o homem e a mulher se vestem quase iguais, usando cabelos alisados, casacos pesados de marinheiro e camisetas longas que quase parecem vestidos", disse. Essa fusão voluntária de vestimentas masculinas e femininas representa, para ela, "um nivelamento entre os gêneros".
Algumas empresas de moda vêm reagindo rapidamente à nova ambiguidade. Anúncios da Burberry mostram uma sucessão de homens e mulheres magros e pálidos trajando o que parecem ser casacos que serviriam tanto para um quanto para o outro. Estilistas como Rick Owens e Alexander Wang vêm chamando a atenção com camisetas drapejadas e, no caso de Owens, vestidos e sapatos de salto para homens.
"Hoje, os estilistas de mais sucesso são os que tentam lançar uma ponte entre os sexos, em vez de diferenciá-los mais claramente", disse Karlo Steel, sócio da Atelier, loja de moda masculina em Manhattan que também atrai clientela feminina. "O pêndulo da moda parece ir nessa direção."

Um comentário:

Anônimo disse...

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