sexta-feira, 20 de março de 2009

Drogas, o “barato” que sai caro.

Drogas, o “barato” que sai caro.
Ranulfo Bocayuva* EM: 20/03/2009 às 07:34

Muito se fala sobre políticas de combate às drogas, mas poucos resultados são obtidos para diminuir realmente seus danos para as sociedades, que vivem iludidas em pensar que apenas a repressão pura e simples resolveria ou ainda que todo caso de violência estaria associado ao uso e tráfico de entorpecentes. Ou seja, não se trata apenas de lutar contra as conseqüências, mas sim contra as causas e origens.
É bom lembrar também que estudos da Organização Mundial de Saúde (OMS) provam que periferias e bairros carentes de centros esportivos, bibliotecas, salas de cinema e teatro são mais vulneráveis ao uso e tráfico de drogas. Faltam políticas sociais contínuas nestas áreas.
O fato é que somente ações policiais e militares não resolvem, conforme reconheceu, inclusive, a maioria dos países que se reuniram, em Viena, sob a égide das Nações Unidas para definir novas diretrizes para os próximos dez anos.
Os dados do Escritório da ONU sobre Drogas e Crime (www.unodoc.org) indicam que, de 1998 até hoje, houve aumento do poder econômico do tráfico internacional de drogas (movimento de US$ 300 bilhões anuais), crescimento de áreas de plantio e de consumo com o deslocamento para áreas menos policiadas e produção de drogas sintéticas.
A ONU adverte, por exemplo, que “estados do Caribe, da América Central e da África Ocidental, assim como as fronteiras mexicanas se tornaram o entroncamento entre os maiores produtores de coca (países andinos) e os maiores consumidores, EUA e Europa”. Torna-se, então, urgente a ratificação e a implementação das convenções da ONU para se combater o crime transnacional, desde o cultivo até o consumo.
Em todos os seus estágios e com suas características peculiares, as drogas devem ser entendidas no seu contexto social, cultural e econômico. Uma mesma regra de uso e legalização não pode servir, obviamente, para todos, sob o risco de produzir efeitos danosos e irreversíveis à sociedade e aos jovens. O exemplo de Amsterdã, com seus coffee-shops, é, certamente, interessante para a cultura holandesa de combate ao tráfico de drogas, como heroína e cocaína, mas a legalização da maconha não pode ser aplicada indiscriminadamente em qualquer lugar.
Do ponto de vista cultural e artístico, sabe-se que experiências com drogas levaram os Beatles a viagens alucinógenas, que acabaram influenciando gerações de jovens nos anos 60, nem sempre bem-sucedidas. São lastimáveis os casos de consumo exagerado de drogas pelos gênios do rock Jimi Hendrix e Janis Joplin, ou então, pela diva do jazz Billie Holliday. Tampouco pode se aprovar o uso do qual fizeram os poetas românticos franceses do século XIX, como Charles Baudelaire (A flor do mal) e Arthur Rimbaud (Uma estação no inferno), que escreveram belas obras sob os efeitos das drogas. Não se trata, portanto, de copiá-los: eles sofreram até o fim de suas breves vidas em troca da devoção para criação e no âmbito de suas épocas.
Em Viena, no dia 11, o presidente da Bolívia, Evo Morales, mastigou folha de coca no auditório da ONU para provar que a planta não é uma droga e pediu sua retirada da lista de substâncias proibidas. O problema é que ela serve de matéria-prima para a produção de cocaína pelos cartéis colombianos, uma das mais poderosas redes de narcotráfico do mundo, assim como também é usada como erva medicinal, há mais de três mil anos na cultura andina, inclusive, como remédio contra os efeitos da altitude. Por isso, seria fundamental permitir o cultivo de certas substâncias para o uso controlado por respeito a tradições culturais e para o bem da medicina.
O foco para resolver este terrível mal deveria ser, principalmente, o da saúde pública, da prevenção e do tratamento. Os resultados são igualmente promissores com o fortalecimento dos laços familiares para evitar que o vazio afetivo e o silêncio do diálogo sejam substituídos pelo bombardeio destrutivo das drogas. Vale a pena enfatizar que a estratégia mais eficaz contra elas é, segundo especialistas da ONU, a criação de ambiente familiar e educacional para ajudar crianças e adolescentes a superarem dificuldades e conseguirem resultados positivos na vida. Caso contrário, o caminho para as drogas estará aberto.Ranulfo Bocayuva é Jornalista e diretor-executivo do Grupo A TARDE*
http://www.atarde.com.br/cidades/noticia.jsf?id=1100492

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