Filha de Raúl Castro luta pelos direitos dos homossexuais em Cuba
MICHAEL VOSSda BBC Brasil, em Havana
Há um membro da família Castro que está lutando para introduzir mudanças radicais em Cuba. Não é o novo presidente, Raúl Castro, apesar de sua promessa de promover mudanças "estruturais e conceituais" nessa ilha comunista do Caribe, e sim sua filha, Mariela Castro.
No cargo de diretora do Centro Nacional de Educação Social (Cenesex, na sigla em espanhol), entidade financiada pelo governo, a filha do novo presidente tenta mudar as atitudes dos cubanos em relação às minorias.
No momento, Mariela Castro tenta convencer a Assembléia Nacional a adotar o que seria uma das leis sobre direitos de homossexuais e transexuais mais liberais da América Latina.
O projeto de lei em discussão reconhece uniões de casais do mesmo sexo, assim como direitos de herança. Também dá aos transexuais o direito de se submeter a cirurgia de mudança de sexo, além de permitir que eles troquem de nome em suas carteiras de identidade - tendo ou não feito a operação.
A legislação tem limites, porém. A adoção de crianças por casais do mesmo sexo não é mencionada, assim como a palavra "casamento".
"Muitos casais de homossexuais me pediram para não arriscar que a aprovação da lei fosse atrasada por causa da insistência na palavra 'casamento'", informou Mariela Castro. "Em Cuba, o casamento não é tão importante quanto a família, e desta maneira podemos pelo menos garantir os direitos pessoais e de herança de homossexuais e transexuais", afirmou.
Segundo ela, seu pai apóia seu trabalho, apesar de aconselhá-la a ir devagar. "Eu vi mudanças em meu pai desde que eu era criança. Eu o via como machista e homofóbico. Mas, à medida que cresci e me transformei como pessoa, também o vi mudar", afirmou.
Sua mãe, Vilma Espin, era uma defensora dos direitos das mulheres reconhecida internacionalmente. Para Mariela Castro, são os direitos dos homossexuais e dos transexuais que precisam ser defendidos.
Aconselhamento
Uma vez por semana, um grupo de transexuais se reúne em uma sessão de apoio na mansão em Havana que abriga o Cenesex. Uns são adolescentes, outros já estão na faixa dos 40 anos. Todos se vestem como mulheres. Alguns já passaram por cirurgias de mudança de sexo.
Um psiquiatra, pago pelo governo, oferece aconselhamento, apoio e educação em saúde. "Os transexuais sempre enfrentaram muita injustiça", disse Libia, que fez um curso de cabeleireira depois de participar dos encontros no Cenesex. "Aqui nós somos muito respeitados. Essa instituição ajudou a aumentar nossa auto-estima."
Passado de repressão
Atualmente, Cuba tem uma comunidade gay vibrante, apesar de geralmente discreta. Há uma praia gay muito popular em Playas del Este, a uma curta distância de Havana.
Na capital, oficialmente não há bares gays, mas há um clube que promove festas gays semanais com shows. De acordo com o gerente da casa, que pediu para não ser identificado, as festas gays são as mais concorridas do local. Essas festas com shows são legais, mas não são divulgadas, contando apenas com a propaganda boca-a-boca. Devido ao tratamento dispensado aos homossexuais de Cuba no passado, muitos freqüentadores do clube preferem permanecer anônimos.
Nos primeiros dias da revolução, muitos homossexuais foram mandados para campos de trabalho forçados, para "reeducação" e "reabilitação".
Esses campos não duraram muito tempo, mas ainda assim muitos gays eram recusados em alguns tipos de trabalho por causa de "desvios ideológicos".
Nos anos 80, passeatas eram organizadas para denunciar homossexuais.
Preconceitos arraigados
As relações sexuais entre adultos do mesmo sexo foram legalizadas em Cuba há cerca de 15 anos, mas até muito recentemente eram comuns os casos de repressão policial contra gays.
"Nos primeiros anos da revolução, a maior parte do mundo era homofóbica. O mesmo ocorria aqui em Cuba, o que levou a atos que eu considero injustos", informou Mariela Castro. "O que eu vejo agora é que tanto a sociedade cubana como o governo perceberam esses erros. Há também o desejo de estabelecer medidas que evitem que esses erros voltem a ocorrer."
No entanto, ainda é uma luta difícil. Antigos preconceitos permanecem profundamente arraigados, principalmente entre as gerações mais velhas.
"É como uma doença, ou talvez uma falha de caráter", afirmou um homem, que pediu para não ser identificado, quando questionado sobre o que pensava a respeito dos homossexuais.
Alguns, porém, são mais tolerantes. Falando com as pessoas nas ruas, muitas desaprovam a homossexualidade, mas acreditam que cada um deve ser livre para viver sua própria vida.
Ainda não há garantia de que a Assembléia Nacional irá aprovar o projeto de lei de Mariela Castro. Caso aprove, no entanto, isso vai marcar uma mudança revolucionária na política sexual de Cuba.
MICHAEL VOSSda BBC Brasil, em Havana
Há um membro da família Castro que está lutando para introduzir mudanças radicais em Cuba. Não é o novo presidente, Raúl Castro, apesar de sua promessa de promover mudanças "estruturais e conceituais" nessa ilha comunista do Caribe, e sim sua filha, Mariela Castro.
No cargo de diretora do Centro Nacional de Educação Social (Cenesex, na sigla em espanhol), entidade financiada pelo governo, a filha do novo presidente tenta mudar as atitudes dos cubanos em relação às minorias.
No momento, Mariela Castro tenta convencer a Assembléia Nacional a adotar o que seria uma das leis sobre direitos de homossexuais e transexuais mais liberais da América Latina.
O projeto de lei em discussão reconhece uniões de casais do mesmo sexo, assim como direitos de herança. Também dá aos transexuais o direito de se submeter a cirurgia de mudança de sexo, além de permitir que eles troquem de nome em suas carteiras de identidade - tendo ou não feito a operação.
A legislação tem limites, porém. A adoção de crianças por casais do mesmo sexo não é mencionada, assim como a palavra "casamento".
"Muitos casais de homossexuais me pediram para não arriscar que a aprovação da lei fosse atrasada por causa da insistência na palavra 'casamento'", informou Mariela Castro. "Em Cuba, o casamento não é tão importante quanto a família, e desta maneira podemos pelo menos garantir os direitos pessoais e de herança de homossexuais e transexuais", afirmou.
Segundo ela, seu pai apóia seu trabalho, apesar de aconselhá-la a ir devagar. "Eu vi mudanças em meu pai desde que eu era criança. Eu o via como machista e homofóbico. Mas, à medida que cresci e me transformei como pessoa, também o vi mudar", afirmou.
Sua mãe, Vilma Espin, era uma defensora dos direitos das mulheres reconhecida internacionalmente. Para Mariela Castro, são os direitos dos homossexuais e dos transexuais que precisam ser defendidos.
Aconselhamento
Uma vez por semana, um grupo de transexuais se reúne em uma sessão de apoio na mansão em Havana que abriga o Cenesex. Uns são adolescentes, outros já estão na faixa dos 40 anos. Todos se vestem como mulheres. Alguns já passaram por cirurgias de mudança de sexo.
Um psiquiatra, pago pelo governo, oferece aconselhamento, apoio e educação em saúde. "Os transexuais sempre enfrentaram muita injustiça", disse Libia, que fez um curso de cabeleireira depois de participar dos encontros no Cenesex. "Aqui nós somos muito respeitados. Essa instituição ajudou a aumentar nossa auto-estima."
Passado de repressão
Atualmente, Cuba tem uma comunidade gay vibrante, apesar de geralmente discreta. Há uma praia gay muito popular em Playas del Este, a uma curta distância de Havana.
Na capital, oficialmente não há bares gays, mas há um clube que promove festas gays semanais com shows. De acordo com o gerente da casa, que pediu para não ser identificado, as festas gays são as mais concorridas do local. Essas festas com shows são legais, mas não são divulgadas, contando apenas com a propaganda boca-a-boca. Devido ao tratamento dispensado aos homossexuais de Cuba no passado, muitos freqüentadores do clube preferem permanecer anônimos.
Nos primeiros dias da revolução, muitos homossexuais foram mandados para campos de trabalho forçados, para "reeducação" e "reabilitação".
Esses campos não duraram muito tempo, mas ainda assim muitos gays eram recusados em alguns tipos de trabalho por causa de "desvios ideológicos".
Nos anos 80, passeatas eram organizadas para denunciar homossexuais.
Preconceitos arraigados
As relações sexuais entre adultos do mesmo sexo foram legalizadas em Cuba há cerca de 15 anos, mas até muito recentemente eram comuns os casos de repressão policial contra gays.
"Nos primeiros anos da revolução, a maior parte do mundo era homofóbica. O mesmo ocorria aqui em Cuba, o que levou a atos que eu considero injustos", informou Mariela Castro. "O que eu vejo agora é que tanto a sociedade cubana como o governo perceberam esses erros. Há também o desejo de estabelecer medidas que evitem que esses erros voltem a ocorrer."
No entanto, ainda é uma luta difícil. Antigos preconceitos permanecem profundamente arraigados, principalmente entre as gerações mais velhas.
"É como uma doença, ou talvez uma falha de caráter", afirmou um homem, que pediu para não ser identificado, quando questionado sobre o que pensava a respeito dos homossexuais.
Alguns, porém, são mais tolerantes. Falando com as pessoas nas ruas, muitas desaprovam a homossexualidade, mas acreditam que cada um deve ser livre para viver sua própria vida.
Ainda não há garantia de que a Assembléia Nacional irá aprovar o projeto de lei de Mariela Castro. Caso aprove, no entanto, isso vai marcar uma mudança revolucionária na política sexual de Cuba.
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